As entrevistas de Fernando Sequeira a 'O Jogo' e ao 'Record'

Começo por manifestar (reforçar, aliás) o sentido do que escrevi há dias. Obviamente desejo as maiores felicidades à recém-eleita direcção.

Dito isto, vamos às entrevistas (somatório do «Record» e d’«O Jogo»). Uma entrevista de alguém que acaba de ser eleito e é perfeitamente desconhecido da grande maioria dos Belenenses, facto que resulta de uma campanha sem concorrência (facto que lhe é alheio, obviamente) nem exposição pública mínima. Conhece-se-lhe apenas uma intervenção mais alargada, registada em video no ‘Belém até Morrer’, que, aliás, apreciei. Assim esta (curta) entrevista é mais o que se diz e o que se afirma pensar do que o que se fez. É natural.

Numa apreciação global diria que é uma entrevista num tom positivo e que, no meu entender, procura acima de tudo descansar os espíritos dos belenenses, demonstrando uma (até ver, aparente) segurança de que sinceramente os belenenses precisam, assim como um optimismo face à capacidade de dar a volta a uma situação que é claramente pior do que se permite admitir em público, pelo menos para já. Neste sentido, entendo e aprecio o tom da entrevista. Muito mais que uma entrevista os factos e as acções da nova Direcção falarão por si e os sócios julgarão e decidirão como é seu direito ou dever. Em eleições e em Assembleia-Geral.

Como pretendo que esta análise não seja exaustiva até porque não são entrevistas extensas, apenas indico os pontos negativos e termino com os positivos:


Pontos negativos:

«« Eufemismo excessivo quando se refere à anterior gestão. Se a anterior gestão “não serviu o Clube”, como afirma primeiro, como pode não ser uma má gestão?
’O Jogo’: “Classificaria essa gestão anterior como uma má gestão?
FS: ”Classifico como uma gestão diferente da minha. Para além disso, foi uma gestão que não serviu inteiramente o clube, dado que este ficou numa situação difícil.


«« A ideia que se retém das afirmações de que a ambição de um treinador só cabe em clubes como o Porto, Benfica ou Sporting.
(a ’O Jogo’) FS: “Não podemos achar que os treinadores vão para os clubes apenas e só a pensar na sua auto-promoção. Se fosse assim, pensavam só em FC Porto, Sporting e Benfica e não cabem lá todos...

«« Uma comparação muito infeliz:
‘O Jogo’: “ Muitos sócios do Belenenses não aceitam bem empréstimos dos chamados três grandes..."
FS: “Quando eu ia para a bancada, também discordava de algumas substituições ou outras questões. Mas eram apenas opiniões volúveis e sem influência na vida do clube”.
Uma coisa não tem nada a ver com a outra e a não-rejeição liminar de empréstimos destes 3 é muito negativa.


Pontos positivos:

»» O tom da entrevista, que procura transmitir confiança.

»» A recusa em divulgar valores e situação de passivo antes de o fazer em Assembleia-Geral, apesar de referir o estado geral do Clube em termos económicos e financeiros.

»» Anúncio de reorganização do Clube em áreas como recursos humanos, informáticos e de compras.

»» Centro de formação é um projecto de curto-prazo (um ano) e a sua localização não é no espaço do complexo desportivo do Restelo.

»»tudo o que o Belenenses fizer aqui no Restelo nunca passará pela alienação mas sim pela rentabilização com vista ao futuro

»» Política desportiva passará a assentar na formação e prospecção.


Nota final para uma afirmação reveladora de um pensamento que no meu entender deve ser reformulado:
FS: “Peço que os sócios entendam que têm uma Direcção e que têm de se unir em torno dela. Estaremos aqui para defender os interesses do clube

É importante que se entenda definitivamente o seguinte: os sócios não têm de se unir em torno de uma Direcção. Os belenenses (sócios ou não) têm de se unir em torno DO BELENENSES, sendo que para isso A DIRECÇÃO DO BELENENSES tem de ser e promotora dessa união. Antes desta já havia uma Direcção mas nunca fez isso nem entendeu a diferença. É importante, para bem da comunidade, que esta o entenda. E mais: que entenda rapidamente que se não explicar o porquê de medidas menos populares (refiro-me a medidas com previsível impacto na política desportiva) e não o justificar de forma fundamentada na situação real do Clube (que até já conhece), antes de as tomar, a sua vida vai ser curta e muito difícil. Os aduladores de coveiros disso se encarregarão.

Eu estou disposto a colaborar na medida das minhas capacidades e disponibilidade como eu sei que outros estarão. Mas não para satisfazer egos e vaidades pessoais ou de dirigentes, como foi visível várias vezes no passado.