Nas costas dos outros vemos as nossas

Tenho vindo a acompanhar as notícias que dão conta de salários em atraso no futebol profissional (e no semi-profissional) português com um formigueiro nos pés e, a espaços, alguns arrepios na nuca. Desagradáveis.

Que o modelo em que assenta todo o edifício do futebol português está infestado de térmitas todos os pressentimos e há muito que todos os sérios (raça em extinção) que não se alimentam do sistema de plantação de eucaliptal já há muito que não se atrevem a bater com o pé no chão não vá ruir de vez.

Os que têm coragem de sofrer as consequências de não alinhar pagam a factura do ostracismo de várias formas. Quem são? São os clubes que pagam os impostos e segurança social sem demoras ou com mínimas, que investem na formação mas não têm futebol profissional (ou têm-no sem expressão significativa) e são formadores para os eucaliptos, são clubes que procuram jogadores portugueses ou estrangeiros mas com parcimónia e grande selectividade sem fazer questão de passar semanas a fio no Brasil e trazer jogadores à dúzia ou meia-dúzia que juntos não completam 90 minutos de jogo numa época (não preciso de dar exemplos que as estatísticas de utilização são públicas no site da LPFP, sirvam-se), etc, etc. De facto são poucos, é verdade, os sérios.

Depois ainda há os que apesar de ser da terra não comem do poder da terra como outros e assim mesmo passam por dificuldades extremas a roçar a extinção pura e simples e que num esforço de competência, sacrifício e muito trabalho mas acima de tudo (assim parece) seriedade tentam reconstruir dos escombros de gestões ruinosas e criminosas. Vai daqui a minha chapelada ao Vitória (de Setúbal), entenderão porquê, extensível a todos os que colaboram e que nesta época com um orçamento de envergonhar muitos pavões da praça dão bigodes que aplaudo. Carvalhal incluído (a prova de que com direcção séria e consistente para não dizer competente há questões que se resolvem quando há um mínimo ponto de partida de qualidade - exclui "coveiros" obviamente).

Do outro lado da barricada há de tudo e à tripa-forra. É emprestados de estarolas a ganhar o triplo do original e com o dobro do encargo original para quem os recebe. Há quem possa descer de divisão por tentativa (caramba, tentativa???) de corrupção. Há eucaliptos que mesmo sendo os mais mamões dos últimos anos neste desporto cá da terra que é o "nacional corruptismo" mesmo se se provar a má-acção não descem de divisão nem percebo como. Há até "nacional corruptismo de cristal a imitar acrílico", neo para ser mais justos com décadas de obscurantismo a projectá-los para o mundo. Há de tudo.

Mas há coisas que, como começava e escrever, me causam arrepios na nuca. Primeiro o Estrela da Amadora. Greve de jogadores, ameaças várias como rescisão colectiva (o que deixa o sindicato «à rasca» e o problema ainda por resolver. Mesmo com meio mundo emprestado e os eucaliptos emprestadores a sustentar parte convincente do ordenado, assim vai este entreposto. Agora o Boavista, de quem não tenho pena nenhuma, que há coisas que não se me esquecem assim só porque se muda de presidente.

Se é verdade que com o mal dos outros posso eu bem (o que nem é o caso em 100% dos exemplos apontados), a verdade é que nas costas dos outros eu vejo as minhas. Por isso, até me custa falar nisto sabendo o estado em que se encontra a SAD do mal-amado Belém. Falemos baixinho e continuemos a "rezar".

PS: Neste regresso após uma semana fora do País, aproveito para desejar as maiores felicidades à Direcção recém-eleita e que seja capaz, competente, corajosa, verdadeira e humilde como não me lembro no Belenenses e que vá a tempo de impedir que esta visão das costas dos outros não sejam um espelho do que está para vir até nós.