Adeptos Com Febre

Pachos na testa,
terço na mão,
uma botija,
chá de limão

Zaragatoas,
vinho com mel,
três aspirinas,
creme na pele

Grito de medo,
chama a mulher
Ai Lurdes Lurdes
que vou morrer

Mede-me a febre,
vê-me a goela,
cala os miúdos,
fecha a janela.

Não quero canja,
nem a salada,
Ai Lurdes, Lurdes,
não vales nada

Se tu sonhasses
Como me sinto,
já vejo a morte
nunca te minto

Já vejo o inferno,
chamas, diabos,
anjos estranhos,
cornos e rabos

Vejo demónios
nas suas danças
tigres sem listras,
bodes sem tranças

Choros de coruja,
risos de grilo
Ai Lurdes, Lurdes
fica comigo

PS: Adaptação livre da Poesia de António Lobo Antunes (Homens com febre), em contraponto à "doença" dos adeptos desesperados com a "saída" de Jorge Anjolas