Tempos Modernos (VI)

Pensamentos soltos...

Ao longo dos anos e das reflexões sobre a nossa condição azul sem riscas creio termos finalmente chegado à idade da razão a qual, para nós Belenenses, deverá ser sem receios correspondente ao momento histórico – associativo da ruptura.

Uma ruptura com ou sem ataques virais, mas capaz de re-erguer o Belenenses e de lhe fazer tornar a grandeza que dele se espera, mas numa linguagem e num contexto contemporâneo sem teias de aranha nem fantasmas do passado.

Uma ruptura capaz e consciente que traga ao clube novas ideias, novas motivações, muitos mais adeptos, que alimente em nós o ideal de voltarmos a ser campeões dentro e fora do campo, enchendo o Restelo de um azul furioso cantado a 25.000 vozes!

Uma ruptura que faça respeitar este grande clube verdadeiro poema azul sobre o horizonte no abraço do Cristo - Verdadeiro Rei - até sermos campeões porque o devemos voltar a ser em nome da nossa história.

Mas tal apenas se me afigura possível a médio ou a longo prazo quando e só quando a coragem sobrevier ao medo e ocorrer a ruptura com a moléstia endémica do passado!

Tantas as nossas indigestas crises financeiras, de gestão, administração, recursos humanos, materiais, de inteligência, bom senso e espírito crítico que, juntas, acabaram por nos conduzir uma primeira e triste queda na segunda divisão a que se sucedeu uma outra.

Não aprendemos. E por isso mesmo, nos entretanto(s) primo - divisionários nunca nos voltámos verdadeiramente a consolidar e acontecem coisas em tudo semelhantes à que presentemente sucede.

A classe - sem classe - dirigente do belenenses tem tido inegáveis, implícitas, inequívocas e incontornáveis responsabilidades no facto de não sermos campeões há 62 anos.

Não porque tenham de ser eles, dirigentes a ganhar jogos e a marcar os golos das vitórias, mas pela cruel ausência de todo um trabalho de planeamento estratégico, adaptação do clube aos tempos e às mudanças e mais grave de tudo isso o sistemático e premeditado afastamento dos sócios da participação na vida do clube.

No CFB tem que existir um projecto que não seja projecto só da «boca para fora», nas entrevistas aos jornais ou nas boas intenções. Se bem que existe ou não existe.

Estou convicto que quando a ruptura acontecer por vontade explícita de uma geração insatisfeita e com projecto de salvação da alma azul, o Belenenses, não vai voltar a ser campeão uma vez mais, mas muitas mais vezes!

As direcções do Belém têm de uma vez por todas de deixar de contribuir para que o Belenenses seja cada vez mais um clube...simpático onde os grandes exercem direito de preferência...como nas casas de alterne. Não podemos continuar a ser o segundo clube da milhafragem ou da lagartagem e afins do reino animal.

O Belenenses é primeira escolha! Tem que ser primeira escolha! Simpatias paternalistas NÃO.

A classe dirigente é, regra geral, uma lástima. E, talvez por isso, se explique a falta de nervo, a falta de garra, a falta de horizontes amplos, o cinzentismo sequeirista que teve excelente continuidade no cabralismo (já para não falar nos ferreirismos) e que ainda dá cartas nos destinos do clube.

O Belenenses não pode continuar a ser dirigido como se de uma sociedade recreativa se tratasse e apenas para recreação e procriação institucional de cargos, lugares e interesses vários secundarizando vergonhosamente os reais interesses do clube.

O clube precisa de aumentar claramente o seu número de associados não só como forma natural de crescimento de uma instituição, mas obviamente enquanto urgente revitalização do clube e garantia do seu futuro.

Estamos a precisar de uma campanha a fazer lembrar a campanha dos 20.000 lançada há alguns anos atrás, mas mais agressiva, inovadora e dirigida aos mais novos, às famílias.

Afinal somos apenas pouco mais que 10.000 sócios pagantes. E temos concorrentes directos que sem apoio camarário, mas com grande capacidade de mobilização que têm largamente mais sócios pagantes que nós. Talvez porque os seus dirigentes não adormeceram de todo.

A nossa cinzenta classe dirigente parece acreditar que o Belenenses é um clube de bairro cada vez mais acantonado entre Alcântara, Algés e Belém...resultado previsível: Dafundo.

Se o CFB é um clube de bairro como se explica que tenha simpatizantes espalhados por todo o território nacional e nas comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo? Existe aqui alguma incoerência por certo.

É preciso que se acabem com os servilismos, as vassalagens, os sentimentos de inferioridade e que se sirva o Belenenses sem que dele se sirvam e que se acabe com esse estado de alma que nos arrasta indolentemente, para uma cada vez maior decadência.

Acaso existem protocolos com escolas? Acaso pensaram na possibilidade de fazerem associados todos os miúdos de todas as escolas do eixo Alcântara - Oeiras? Trazê-los ao Belenenses, dar-lhes oportunidade de sentir um clube que pode ser o deles? Dá trabalho não é? Mas tem que ser feito e deve sê-lo feito com a ajuda preciosa da massa associativa.

O Belenenses não pode esperar por complexos imobiliários nem eternizar o debate em torno da saída das Salésias. Já de lá saímos há muito agora há que nos fazermos ao mar porque o futuro não se faz esperar e amanhã já é passado. Levantem-se e caminhem!

Se existe coisa que me choca é o total abandono e desinvestimento na imagem e comunicação e o aparente caos administrativo em que há décadas se vive.

Quantos de nós já não terão desempenhado funções administrativas de responsabilidade e sabem bem que qualquer semelhança entre um normal funcionamento administrativo e o que se passa no Belém é manifesta coincidência.

Um gestor competente custa dinheiro. Claro que sim. Mas prefiro colocar a coisa ao contrário: um tipo destes vai certamente fazer-nos ganhar dinheiro nem que seja reduzindo custos, racionalizando recursos humanos e materiais.

O Belenenses não pode ser gerido como uma colectividade recreativa é preciso termos a noção que a continuidade e o sucesso que desejamos para o clube também passa - em muito - por aqui. Uma das grandes debilidades do Belém e que se transfere para toda a estrutura do clube é a ausência de um plano de acção que ataque o que é premente, mas lance o repto de planificar, projectando, o futuro.

A célebre mudança de mentalidade - o tal novo sangue azul - deverá começar por entendermos que o ecletismo conforme existe actualmente no clube é incompatível com um modelo de gestão racional dos recursos humanos, materiais, financeiros e com a logística em geral.

O ecletismo conforme existe no nosso clube está desfasado da realidade e tem vindo a tornar-se incompatível com a sustentabilidade económica financeira e ainda por cima escasseiam os títulos ganhos.

Quero por isso reafirmar que não precisamos acabar com as modalidades às cegas porque todas nos honram o Jersey azul, mas precisamos de para elas ter outro modelo de gestão que garanta equilíbrio financeiro e desportivo e acima de tudo. E nestas condições só temos uma e uma só: O Rugby.

(Continua no próximo artigo)