Verdades Que Ninguém Quer Ouvir, Incluindo, Os Próprios...

António Vitorino disse ao "DE" que o Governo acordou tarde para o problema da dívida soberana.

Em sua opinião, em Maio (quando se fez o primeiro pacote de austeridade) "deveríamos ter agido de outra maneira e de forma mais ampla". É bom ver pessoas do quilate de Vitorino a dizerem coisas destas. Porque representam uma crítica à forma como o Governo conduziu as coisas. Mas vale a pena fazer uma pergunta: Porque é que Vitorino, e outras pessoas lúcidas do PS, não vieram a terreiro dizer isto em Junho… ou mesmo Julho? É que logo aí ficou claro que o Governo andava a empurrar com a barriga. Só não viu quem não quis!

Não conhecemos a resposta. Embora se possa especular: foi por solidariedade partidária? Se sim, foi um disparate: há muito que Vitorino mandou às malvas a política; o que lhe dá poder de intervenção. Foi porque alguns dos "lúcidos" não podem hostilizar o Bloco Central (negócios oblige)?

A atitude de Vitorino sintetiza o problema fundamental da política portuguesa: os "bons" estão do lado de fora; os "menos bons", e muitos medíocres, estão do lado de dentro (ou seja, existe um gravíssimo défice de qualidade na nossa classe política). E, salvo raríssimas excepções, os "bons" não põem o pescoço de fora para influenciarem o curso dos acontecimentos. Só falam à segunda-feira, quando toda a gente já conhece a chave do Totoloto.

É este défice de qualidade da classe política que está a atirar o País para um lodaçal, comprometendo o futuro. Valia a pena que os partidos (sobretudo os do poder) pensassem nisso, para ver se ainda vamos a tempo de dar a volta ao texto.

(Artigo de Camilo Lourenço no Jornal de Negócios)