Nando Parrado, o Herói Verdadeiro



Quando nos deparamos a toda a hora com JetEUsinhos fugidos às obrigações militares, dispensados de exames e com cursos superiores fatelas, sempre a queixarem-se de dificuldades e apregoarem milagres pessoais e feitos terrenos que entram directamente no anedotário nacional, sentimos logo que nada sabem da vida, que nada contribuem para o crescimento do PIB nacional, que ainda muito pouco fizeram de esforço próprio, intelectual ou físico, para terem todas as mordomias que lhes foram entregues de mão beijada...

Então se a caganeira e a prepotência dão as mãos e são ufanamente apregoadas, sempre na primeira pessoa, espezinhando-se tudo em redor, é indício que a massa cinzenta é diminuta e os poucos neurónios que ainda restam, estão à beira de perigoso curto circuito.

Os Heróis ou os Mártires não se auto-proclamam, aparecem expontaneamente, emergindo e liderando naturalmente quase sempre em situações limite, é verdade, mas sem pré-anúncio ou fanfarras, sendo normalmente humanos e na maior parte das vezes, seres sociáveis, de bem com a própria vida e generosos com os que os rodeiam!

A odisseia de Nando Parrado, 22 anos, capitão da equipa universitária de rugby "Old Christans", gravemente ferido durante 3 dias, em acidente de aviação nos Andes Chilenos, liderando outros 15 sobreviventes (dos 45 embarcados) durante 72 dias, enfrentando condições climáticas extremas, com temperaturas a rondar os -30º. Cº., sem comida e com a mãe Eugénia morta e a irmã Suzana agonizante e que viria a falecer a seu lado, naquele 13 de Outubro de 1972 em que o passeio turístico-desportivo terminou abruptamente quando a asa do avião da força aérea Uruguaia embateu na montanha e partiu-se em dois, a uma altitude de +/- 4 500 metros.

Para além do sofrimento em redor, munidos de um radioseco "inimigo" que funcionava a espácius..., anunciando várias vezes o fim das buscas, dando-os como mortos e desaparecidos, o que nada os encorajava, ter de suportar traiçoeiras avalanches e o terrível dilema da sobre vivência, inato nos seres vivos em condições extremas e inóspitas (evadidos, náufragos ou perdidos), que têm rapidamente que adaptar-se ao meio ou ambiente, mantendo-se confortáveis, unidos e activos (física e intelectualmente), combater a desidratação e alimentar-se minimamente, racionando a despensa e tentando caçar, pescar ou colher produtos da natureza, sendo que neste, as "terríveis rações disponíveis" eram: neve abundante e cadáveres amigos ...

Já havíamos tido a oportunidade de ler, bebendo cada uma da suas fabulosas e indescritíveis emoções, relatadas durante aqueles terríveis e penosos 72 dias, em que teve a coragem de caminhar durante 10 dias por um imenso manto branco de morte, percorrendo mais de 100 km montanha abaixo em busca de socorro com o companheiro Roberto Canessa, apenas munido de umas calças de lã e 3 jeans, uma camisola de flanela, quatro pares de meias todas cobertas por sacos de plástico de super mercado e um gorro de lã na cabeça!

Conhecê-lo e ouvi-lo falar calmamente da nossa vida quotidiana, dos nossos problemas comuns, de como enfrentar as crises sem molestar os nossos semelhantes ou aumentar-lhes o sofrimento, armado apenas com um sorriso franco e sem ponta de vaidade ou jactância, foi um bálsamo e um sinal de que a humanidade ainda pode ter esperança,... apesar de tanto estafermo que por aí ciranda, que nem cara têm para levar uma latada de mão aberta.

SARAVÁ HOMEM DO RUGBY.