Saravá Bruno Silva! Grande Campeão...


Ontem, demasiado emocionado, revivendo momentos inolvidáveis com períodos menos felizes, não fui capaz de alinhavar nada, hoje, mais sereno, mas não menos emocionado, presto a minha singela homenagem ao meu segundo "filho" BRUNO SILVA.

Fez ontem 8 anos que Bruno Silva nos deixou com apenas 27 anos de idade (1975/11/23 -2003/04/28), morreu nos braços do meu filho Nuno Nóbrega, após ter ingerido as últimas colheres de veneno terrestre e as ter rejeitado de imediato.

Em poucos meses entre a detecção do seu carrasco, localizado algures no cérebro e a biopsia efectuada por Lobo Antunes, foi-se um grande atleta, para além de um grande Homem.

Aquele que foi grande nas camadas jovens e que poderia ter sido a última e MAIOR RECENTE ESTRELA DO NOSSO CÉU, caso o CFB tivesse uma pirâmide desportiva correcta, assente em fundações profundas de PURO BETÂO E AÇO AZUL.

Se fosse gerido de dentro para fora, por Belenenses genuínos e honestos intelectualmente. Certamente que teria a companhia de outros colegas de escol.

A história do menino Bruno Silva, que aos 10 anos saía do Montijo sozinho, no barco do fim da tarde, regressando a casa por volta das 23h30 (e muitas vezes depois das 24), é uma odisseia de destemor, preserverança, amor e sofrimento, que devia servir desde há muito de BÍBLIA BELENENSE, para alertar e fazer crescer os nossos jovens atletas (sobretudo os que sonham abraçar uma carreira desportiva profissional, seja ela qual for), caso o Belenenses fosse um Clube com política própria e ADN puro, tal como o pensaram e projectaram os nossos fundadores.

Bruno Silva nasceu no seio de uma família da classe média, instalados na ex-Aldeia Galega, depois Vila, hoje cidade do Montijo, onde Sportinguistas (avós paternos, D. Joana e Sr. César) e Benfiquistas (pais, Ermelinda e César Manuel). Mas influenciado pelos pais, torcia pelos "milagres da 2ª. circular".

Como sempre estive atento às jovens promessas por onde fui residindo e como tinha uma ligação afectiva com Carlos Silva, efectuava reuniões discretas com os respectivos pais em minha casa, manifestando a vontade de o CFB em receber os seus filhos, após o que o próprio CS ou Dominguez os iam observar, voltando a efectuar a reunião final lá em casa, acordando-se tudo por escrito, após o que felizes e contentes, lá partiam os diamantes rumo ao Restelo.

Foi assim com Tony Richard, João Carlos, Michel Masqueiro, Flávio, Carlos Pinto e Bruno Silva. Com Nuno Guia e Hugo Serralha (já craques no benfica) e Taira (ainda vinculado ao CFB mas a rodar no Montijo e com destino certo para o Vitória de Setúbal), os processos ainda foram mais sigilosos e ardilosos, mas sempre falando antecipadamente com os progenitores, excepto no caso de Taira, tratado pessoalmente com CS e J.Mortimore, caguei positivamente no vigarista Barcínio Pinto).

Pois votando ao Bruno, para além de um enorme talento para o futebol (e não só), inato, claro está, era um ser superior, quer no que toca a educação, quer no que toca a solidariedade. Enfim o gene que define os predestinados; humildade, entrega, educação, bom filho, amigo sincero, bom estudante e paletes de sobriedade.

Esteve no Belenenses nas camadas jovens, nos séniores estreou-se aos 17 anos a dez minutos do final num jogo com o Beira Mar, substituindo Luís Gustavo, de partida para a luz, treinava com os seniores e jogava pelos juniores (Zoran Ban, o perna de pau é que era bom), e "corrido" mais tarde para o Campomaiorense, já sénior, ainda com vínculo ao CFB (depois um contrato financeiro não cumprido pelo Belenenses e Morcella, diligente dirigente do Campo Maior), a ameaçar penhoras e outras moras.

Nas camadas jovens deu cartas, nos seniores foi sub aproveitado, como quase sempre acontece om os nossos diamantes ligeiramente lapidados, desde que os treinadores estejam a prazo e não sintam a casa suficientemente sólida para os questionar e meter na ordem.

Quanto a desgraças, ainda juvenil num jogo contra o Estrela da Amadora marcou um golo matinal e chocou com guarda redes (fractura do tíbia e 3 meses no estaleiro). No intervalo de um jogo com a Sanjoanense para a Taça de Portugal sentiu uma indisposição, ficou sozinho nas frias cabines do Restelo, seguiu ao final do jogo para a pensão onde residia em Algés, mais tarde agravou-se o seu estado, teve de seguir para o hospital, onde foi operado ao testículos.

Visitas, os amigos, alguns colegas e José Carlos Quintão! Dirigentes? Népia... não era perna de pau...

Mais tarde já em Campo Maior, com apenas 18 anos, traiçoeiramente lesionado por ex-atleta do Belém num jogo particular em Sines com o Vasco da Gama (fractura dupla do peróneo e tíbia), quando a bola circulava longe do local onde se encontrava e o adversário malandro, estilo, Marcelo, no recente R.Madrid / Barcelona, pisou-o nas costas do árbitro. O herói deste "feito", cujo nome não revelo porque os cobardes não merecem publicidade (apenas que lhes descasquem as trombas e se posível frente à mais que tudo), safou-se duas vezes por breves minutos de ficar com ambas as patas partidas, teve sorte, porque desencontra-mo-nos (rodávamos em ruas paralelas)...

Quando João Alves esteve ao serviço do Clube, quis vê-lo e durante um treino gostou do que viu, pedindo a BS no final para ficar mais uns minutos a bater bolas e efectuar cruzamentos! Só que o Bruno havia sido industriado pelo seu treinador em Campo Maior, Manuel Fernandes, sarilheiro e amigo da família, de que: "...não deveria mostrar tudo, porque ia com ele para o V.Setúbal e o seu destino era a camisola 9 da Selecção Nacional...". Bruno Silva hesitou, porque gostava do CFB e ignorou os seus instintos por momentos, seguindo os conselhos do seu Chefe. Talvez o seu único erro em Belém.

Dizer ainda que quando Fernando Mendes e Paulo Futre foram para o Benfica, seu pai tentou influenciá-lo a seguir aquelas figuras, o que Bruno Silva rejeitou liminarmente, dizendo que nunca trairia o Tó Nóbrega, o Nuno Nóbrega e o Belenenses, era lá que estavam os seus amigos..., desde que não lhe dessem motivos suficientemente graves.

História comovente e sentida que ainda hoje me faz verter uma lágrima marota, porque os Homens, ao contrário dos vigaristas e dos cobardes, também choram, mas de pé...

SARAVÁ QUERIDO BRUNO! TENHO SAUDADES TUAS E DO TEU LINDO SORRISO. ATÉ JÁ...