Drama Humano e Pingo Doce

O Pingo Doce foi zurzido até à morte por todos os cronistas de sofá. Tudo serviu de pretexto, até o dia 1º de Maio. Grande crime contra este dia, onde só é permitido lutar, manifestar e não comer.

O que fizeram os supermercados do Pingo Doce foi uma promoção em que ofereciam descontos de 50% para quem fizesse compras superiores a 100 euros. É verdade que as imagens de gente aos empurrões e a esbofetear-se para comprar comida são humilhantes. E que os efeitos da promoção deviam ter sido mais bem executados. Pouco importa se houve concorrência desleal ou dumping. Os cronistas de sofá, de pés aquecidos à lareira, não se importam com o combate à cartelização dos preços de combustível, onde 83% do combustível são impostos líquidos, com os encargos fiscais às empresas que as impedem de dar às famílias um melhor rendimento social?

Nem com os cortes nos subsídios, que passaram de 2012 para 2018 para depois voltarem a passar para 2020, dando saltos que nem o campeão Nelson Évora, era capaz, perdendo o sentido da realidade e da justiça social. A Jerónimo Martins, mantendo a margem de lucro, fez muitos portugueses felizes e fez funcionar algum pequeno comércio que foi comprar mais barato para, de seguida, vender mais caro. Permitiu que muitas famílias levassem comida para casa para um mês ou mais. Qual o crime que cometeu? Nenhum! Nem qualquer juízo de censura ética é possível imputar ao seu comportamento. Que culpa tem do retrato humilhante visto nas imagens? Os que foram comprar é gente que vem de baixo e está em baixo na expressão feliz desse Homem de carácter e de virtudes que é, foi, e será sempre Miguel Portas. Tanta demagogia e tanta hipocrisia contra o gesto do Pingo Doce. Quem atirou as pessoas para este retrato humilhante foram as políticas dos sucessivos governos. Esta gente que luta pela sobrevivência também não sabe viver em democracia nem respeitar o seu semelhante. O povo é tratado aos empurrões, é espancado no seu carácter e tratam-no como um mero número estatístico. Os governos desta Europa sem rumo, sem estratégia, roubam-lhe a alma e a dignidade humana. Decidem por eles e contra eles sem os ouvir.

Esta empresa cria empregos, concorre para a dinamização da economia e paga os seus impostos. Perguntem a esta gente que esvaziou as prateleiras se estão contra o Pingo Doce. Em Portugal, chegará o dia em que os mais ricos vão ser obrigados a pensar no outro, a ter uma cultura filantrópica, distribuindo, por causas sociais, uma fatia dos seus lucros, se quiserem viver em paz e segurança. O exemplo da filantropia americana vai ter de ser seguido. E o IRC que vai entrar para os cofres do Estado, com a venda de tantos produtos, não conta! O genocídio cultural e cívico para onde caminhamos é que é preocupante. Esta gente feliz com lágrimas do João de Melo foi feliz.

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