Ainda a formação: uma prova, um exemplo do desperdício

O excelente trabalho que a seguir reproduzo é um excelente exemplo do que me venho batendo em termos de desperdício da formação de jogadores no Belenenses. É uma peça jornalística que considero de qualidade acima da média.


Sonhos desfeitos no Restelo renascem no Cacém
Por Miguel Mendes, in «A Bola» de 14 de Outubro de 2008

Nove jogadores dispensados pelo Belenenses ganham nova vida com João Raimundo. Aposta clara na juventude.Viveiros de Sporting e Benfica também aproveitados

A história de Diogo Oliveira é igual a tantas outras de jovens portugueses. A qualidade demonstrada em tenra idade aliada ao prazer de jogar futebol catapultaram-no para um dos grandes clubes portugueses. No caso o Belenenses. Iniciava-se uma nova vida para o jovem médio com as ilusões a ganharem forma à medida que se aproximava do sonho de jogar na principal liga.


Photobucket
Treinador João Raimundo já havia treinado Paulo Ribeiro, João Silva,
Ivan, Ricardo, Diogo e Pedro Coelho nos juniores do Belenenses

Mas nem o facto de ter percorrido todos os escalões jovens do clube do Restelo, ou de ter, inclusive, ganho o rótulo de jovem promessa, ajudou a que cumprisse o sonho de outrora. O percurso ascensional começou a inverter-se quando Diogo Oliveira se preparava para subir à equipa principal.
«Estive 11 anos no Restelo e na última época não se decidiam se queriam que continuasse ou não. A minha paciência, devido ao impasse, terminou e optei por deixar o clube», começa por dizer Diogo Oliveira, que ao ter escolhido o At. Cacém não considera ter dado um passo atrás na carreira: Não vou ficar por aqui e tenho a certeza de que darei o salto. A formação no Belenenses está cada vez mais destruída, com o clube a não proteger os jogadores portugueses. Este ano estou a jogar, a ganhar maturidade e ainda vou conseguir provar que se enganaram.


Belenenses, clube da família
O guarda-redes Ricardo Ferreira é um dos mais experientes do grupo que se transferiu para o At. Cacém. Longe vão os tempos em que esteve oito anos com a camisola do clube do Restelo, num duelo aceso na luta pela titularidade com Pedro Alves, actual guarda-redes do V. Setúbal. Mas a admiração pelo Belenenses não morreu. «O meu avô, o Capela, e o meu pai, Seixas, jogaram no Belenenses, que sempre foi o clube da família. Acabei por não cumprir o sonho de jogar na principal equipa mas não é fácil vingar. Do meu tempo apenas o Neca e o Pedro Alves conseguiram subir», frisa.

Ambições não morrem
Pedro Coelho, João Silva, Paulo Ribeiro e Ivan Meneses comungam das opiniões dos colegas: a aposta nos jogadores portugueses é cada vez menor. «Não nos dão oportunidades. Não nos consideramos nenhuns craques mas sentimos na pele que somos pouco protegidos. Uma coisa é certa: aqui ninguém está desmotivado e todos mantêm a ambição de subir a outros patamares», expressa Pedro Coelho.

Mais três a caminho
A estes seis jogadores vão juntar-se mais três nos próximos dias: o guarda-redes Tiago Mourão e os médios Carlos Amaral e Filipe Godinho. O que têm em comum? Todos eram colegas de equipa na última época, nos juniores do Belenenses.

No total sobem para nove os jogadores do Atlético do Cacém que são oriundos do Restelo. O discurso do trio não será muito diferente do destes jogadores já integrados na equipa de João Raimundo. Mais três sonhos desfeitos que procuram renascer na III Divisão...


«Aqui não temos Juanitos...»
João Raimundo lamenta reduzida aposta dos clubes nos frutos da formação. Os sonhos dos jogadores do Atlético do Cacém cruzam-se com o percurso do treinador João Raimundo.
O professor de Educação Física orientou os iniciados e juniores do Belenenses e conhece bem todos os jovens que foi recrutar ao Restelo. Melhor que ninguém, João Raimundo trabalhou as suas qualidades. Talvez por isso são muitos os que recorrem à sua ajuda quando, dum momento para o outro, a vida futebolística se transfigura.
«Estamos sempre abertos a receber todos os jogadores jovens com qualidade que se encontram desmotivados. É um pouco difícil esta transição para eles. Todos têm expectativas muito altas enquanto juniores e depois caem numa situação amadora, com muito menos condições, sendo que muitos deles são internacionais. No fundo ficam envolvidos num mundo diferente», descreve o treinador, que, porém, não esconde a irresponsabilidade dalguns clubes portugueses na formação de jogadores: «Muitos destes jogadores poderiam ter um lugar no Belenenses. Contratámos agora o Carlos Amaral, internacional sub-19, que tenho a certeza que se chamasse Juanito ou tivesse um qualquer nome argentino jogaria na Liga. Aqui não temos Juanitos. Todos se treinam menos, por vezes em condições extremas, mas aqui encontram espaço para fazer o que mais gostam.»

_______________________________________________

Face a tanta falta de qualidade que vejo no futebol praticado em portugal de uma forma geral e nem me refiro ao Belenenses em particular e com tanta utilização de estrangeiros (sem xenofobia e ovelhas de cores diferentes) em detrimento dos miúdos que fazemos crescer para o futebol, já que temos as camadas jovens e delas não parece haver quem queira desistir de ter; se temos os custos; que tal deixarmos empresários e comissões chorudas para trás e, definitivamente (tal como em 1967/69), apostamos em força nos frutos da formação, neste momento de crise clubística profunda que atravessamos?