O «golo», o deserto e a impotência

A inacção de várias direcções demonstraram o que eu e mais meia-dúzia há muito vinham dizendo: “o golo” não basta para entusiasmar os belenenses e trazê-los de volta ao Restelo em massa.

Em especial, a penúltima Direcção, que teve um momento único nos últimos 20 anos: a presença numa final da Taça de Portugal e todo o entusiasmo natural que daí advém e que com toda a incapacidade do mundo a deixou escapar-se entre os dedos.

Mas não foi só a Taça de Portugal. Foi a vitória no Torneio de Casablanca, classificarmo-nos em 3º lugar no consagradadíssimo Teresa Herrera obtido com exibição e resultado honroso com Real Madrid e uma vitória sobre o Atalanta, foi a presença na UEFA com o gigante Bayern de Munique. Por tudo isto, se bastassem os resultados, não seria de ter o estádio cheio neste jogo com o Bayern? Claro que sim, apesar dos preços dos bilhetes terem sido ridiculamente caros.

O que se passa é o espelho perfeito da incapacidade dirigente de muitos anos e do divórcio dos belenenses com o Belenenses. Não é só preços, não é só falta do golo. São muitos e muitos anos do quer que se lixe e do dividir para conquistar.

Mas vou mais longe. Mesmo sem resultados bons como os de 2006/07, mesmo assim, com uma boa política, com acções concretas e bem dirigidas, mobilizando figuras conhecidas do grande público - que as temos -, seria possível começar a obter melhorias de forma consistente.

10.000 sócios que sejamos (seremos já bem menos e em queda), será sempre um valor de penúria. Há muito tempo que devia ter soado o alarme (nos dirigentes e nos sócios) e deixar de fazer cartazes só para pôr nas salas interiores do Restelo ("Descubra Os Belenenses"). Pois se o problema é que os Belenenses não vão ao Restelo, vamos fazer uma campanha (qual campanha?) que não sai as portas do Restelo (tal como o jornal)? Desculparão, mas isto para mim deixou há muito tempo de ser só incapacidade. É claramente falta de vontade e não vê-lo como importante, essencial e absolutamente prioritário.

Esta comissão de gestão deu sinais de que o pretende fazer e há trabalho a decorrer, cujos primeiros sinais estarão para breve. Mas o que se pretende e para o que queremos, também através deste espaço contribuir, é algo muito mais abrangente, continuado e duradouro, mesmo sabendo que tudo será feito provavelmente dentro de fortes limitações de recursos. O que obviamente limitará também os resultados.

Não há milagres. O sucesso dessa campanha dependerá totalmente do grau de compromisso e envolvimento de todos os Belenenses. De todos mesmo. Desde a formulação de possiveis acções tendentes ao aumento do número de sócios, passando pela fidelização dos existentes, alargamento da base de produtos e serviços que o Belenenses tem para vender, até ao emoldurar o Restelo consistentemente e de forma condizente com os nossos pergaminhos. É uma questão de prioridades. Se há tanto dinheiro mal gasto e tantas decisões mal-tomadas e que mais comprometem o nosso futuro, é tempo de inverter essa tendência.

Esta luta centrar-se-á essencialmente ao nível da mentalidade derrotista que nos marca. Urge acima de tudo revertê-la assim como de acabar com a doutrina dirigente de tantos anos (diria que de sempre [NdA: desde que tenho consciência do que é o Belenenses]) de que quanto mais pequenino mais fácil é de manobrar e controlar. Essa política trouxe-nos o resultado e o prejuízo que estão bem à vista de todos.