Sobre os XII Heróis de sábado e a vitória na Tapada

Caros amigos,

Antes de mais peço desculpa por estar a ocupar com assuntos do Rugby um espaço ao qual a maioria dos leitores acede apenas e tão só em busca de informação sobre o futebol do clube. Sinto-me todavia à vontade para o utilizar, já que os editores do Blog são belenenses do Belenenses, com B grande, que não têm do clube uma visão unidimensional, apesar de eu ter perfeita consciência de que têm o Belenenses acima de toda a qualquer modalidade, aliás tal como eu.

Feita a introdução, confesso que este texto vem de dentro do coração, e que talvez por isso não venha a assumir a forma que o tema merecia. Farei o meu melhor, dadas as circunstâncias.



Sábado assisti na Tapada à mais impressionante exibição desportiva de uma equipa belenense de que tenha memória. Não sou muito idoso, mas tenho uma memória mais ou menos viva dos principais momentos protagonizados por equipas do Belém, em várias modalidades, nos últimos 10 ou 15 anos, e com inteira franqueza devo dizer que não tinha visto nada assim.

Assisti a grandes jogos da nossa equipa de futebol, infelizmente menos do que desejaria, mas a verdade é que me lembro de tres ou quatro exibições que me ficarão no coração para sempre. Lembro-me da última vitória no Campeonato de Andebol, nos anos 90. Estive nos momentos chave do Futsal, na temporada da subida da 2ª para a 1ª Divisão. Assisti a grandes jogos de basquetebol, na era do Prof. José Couto. Assisti a 90% dos jogos da nossa equipa de Rugby, nas últimas cinco temporadas. Mas igual ao que vi no passada sábado na Tapada, disso não tenho memória.

Não vou fazer a crónica do jogo, que aliás está disponível no site oficial do Clube e no site da secção (neste segundo caso em formato mais extenso). Mas tenho de aqui deixar o meu testemunho acerca da forma absolutamente heróica como a nossa equipa se apresentou na Tapada da Ajuda, provavelmente o mais dificil campo do Nacional de Rugby.

O Belenenses mostrou, desde o primeiro minuto, uma superior qualidade, jogando com toda a equipa e com grande dinamismo contra um adversário que só joga fechado, nos avançados, naquele jogo parado e que explora o peso e força dos seus jogadores, de facto muito mais altos e pesados do que os do Belenenses. Nada de novo. Sempre foi assim, com a Agronomia. Foi aliás assim na final de Maio passado, de que muitos se recordarão.

A diferença é que neste jogo perdemos, aos 10, 20 e 65 minutos, três jogadores absolutamente fundamentais (ou assim pensava eu...) no nosso XV: o nosso saltador principal, Sebastião da Cunha; o capitão e líder, João Uva; e o mágico neozelandês Willie Hafu. Nem mais nem menos do que dois dos três marcadores dos ensaios da final de Maio (Sebastião e Hafu). Perdemos por cartão vermelho, ou seja, expulsão sem substituição.

O Belém jogou mais de uma hora em inferioridade numérica (13 para 15), e cerca de vinte minutos no final com menos três jogadores (12 para 15). Doze para quinze, repito!. Todavia, quando João Uva foi expulso a equipa tinha 12 pontos, e até ao final do jogo fez mais 13, somando 25. Em inferioridade numérica e com lesões a apertarem as opções de banco (Steele saiu do jogo após placagem violenta do compatriota Gardener), apostámos na prata da casa, e contra uma equipa cheia de estrangeiros demos tudo em campo, triunfando. Em inferioridade numérica (6 avançados para 8, antes da expulsão de Hafu) virámos a mêlée de Agronomia, com a primeira linha a jogar uma cartada fundamental nesta heróica vitória. Em inferioridade numérica placámos como se não houvesse amanhã, e unidos vencemos um jogo que é - para mim - uma lição de vida inolvidável.

Doze para quinze, caros amigos e consócios!



A equipa que terminou o jogo, e cujos nomes colocarei em letras maiúsculas no final deste artigo, mostrou-me verdadeiramente o que é ser-se BELENENSES. E fê-lo num jogo de fase regular, no qual a derrota nem sequer comprometia de forma alguma o apuramento para a final four, num campo em que todos os outros deverão cair (sobretudo depois de sábado). Podiamos ter perdido, e na derrota não seriam necessárias desculpas... Doze para quinze...

A equipa do Belenenses deu o corpo e a alma ao jogo, num registo de entrega que surpreendeu todos os presentes. No final do jogo alguém dizia, com inteira justiça, que aquela tarde seria daquelas para recordar para todo o sempre, acrescentando a frase: "Eu estive lá... ninguém me contou. Eu vi!".

Para mim é muitíssimo mais valiosa esta vitória, que só vale 4 pontos, do que um Campeonato. Desculpem-me a sinceridade. É que, como dizia o outro amigo, EU ESTIVE LÁ E VI, NINGUÉM ME CONTOU. E na Tapada, casa de um digníssimo rival do Belém, vi doze heróis darem uma lição de vida a todos os presentes. Assim sim, o Rugby é uma escola de vida.

Antes de finalizar, os nomes dos Heróis azuis, começando pela equipa que terminou o jogo: CARLOS BERNARDO, FACUNDO BORELLI, EMANUEL CHIRINO, LOURENÇO ANDRADE, DUARTE MOREIRA, SALVADOR DA CUNHA, BRUNO NIFO, PEDRO SILVA, CARLOS GASPAR, DAVID MATEUS, DIOGO MATEUS, JOÃO MIRRA, DIOGO MIRANDA. Jogaram também: DAMIAN STEELE, DIOGO PINHEIRO, FERNANDO MURTEIRA, FEZAS VITAL, FRANCISCO CABRAL, SEBASTIÃO DA CUNHA, JOÃO UVA, WILLIAM HAFU, MIGUEL ONOFRE.

Nomes escritos a ouro na história do Rugby do Belenenses.

Por fim, uma palavra para os expulsos: não vou contestar as expulsões, já que não é essa a minha função nem tenho por vocação desculpar actos de indisciplina, que - merecedores ou não de cartão vermelho - de facto se verificaram. Mas acredito que ninguém mais do que eles sentiu na pele o fardo de ter deixado em campo doze colegas de equipa entregues a si, contra quinze jogadores campeões ibéricos em título... O Belenenses pagará, de uma forma ou outra, a factura das expulsões nos próximos jogos, com castigos para os três avançados, e ausências de seis ou sete previsíveis convocados para a selecção de sevens. Seremos nós capazes de dar a devida resposta a mais uma dificuldade no nosso caminho?

Estou certo que sim!

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Os primeiros dois dos três ensaios marcados pelo Belenenses: