Jogar à Belenenses

Ao longo da história do Belenenses, as equipas representativas do clube nas competições seniores foram ganhando fama devido a características suas, algumas partilhadas com clubes adversários, outras verdadeiramente particulares e distintivas de uma escola, uma forma de estar, uma postura perante o desporto e a vida.

No futebol ficou conhecido o chamado "quarto de hora à Belenenses". Noutras modalidades, outras características ou particularidades foram e são comentadas por adeptos e adversários como traços distintivos das equipas do Belenenses.

É particularmente interessante tentarmos perceber o que é que nos distingue dos outros, deixando por momentos de lado os registos históricos de palmarés, estatísticas em matéria de vitórias, empates e derrotas.

No caso da secção de Rugby do Belenenses, as características distintivas relativamente aos adversários são particularmente evidentes. Por vezes são a causa do insucesso dos nossos XV's. Na generalidade dos casos ajudam-nos a vencer jogos, torneios e campeonatos.

Em baixo transcrevo algumas das respostas que jogadores da equipa sénior (e um sub-20) deram nas entrevistas que esta temporada estão a ser publicadas no site da secção. Quanto a mim, o traço comum à generalidade das respostas são: coração e técnica.

As escolas do Belenenses são conhecidas (dos Sub8 aos Seniores):

- pelo jogo fluído e "à mão";
- pela arte de atacar de todo o lado (muito ao estilo do Rugby francês);
- pela técnica, velocidade e imaginação da sua linha de três-quartos (desde sempre que temos equipa menos poderosas fisicamente, o que é uma característica que dá que pensar...);
- pelo imenso coração, que pode resolver um jogo perante o mais feroz adversário.

Pessoalmente orgulho-me bastante de ver em campo as equipas de Rugby do Belenenses, por diversas razões. Esta - a do estilo e cultura de jogo - é uma delas, por ventura das mais importantes.

Proponho que vejam este pequeno vídeo, do jogo entre Técnico e Belenenses no escalão Sub-20 que o Belenenses venceu (mesmo sem seis dos habituais titulares, incluindo o capitão e o sub-capitão de equipa...).

Analisem bem o lance do terceiro ensaio do Belenenses (à passagem do 1m:07s). Reparem que saímos a jogar à mão de dentro da nossa área defensiva (a generalidade das outras equipas jogaria ao pé), e que surpreendemos o adversário com essa decisão. A defesa do Técnico está completamente desorganizada, e o Belenenses ainda a "baralha" mais, com jogadores a aparecerem de todo o lado, em apoio ao portador da bola. Um pequeno exemplo do "jogar Rugby à Belenenses".



Espero ter contribuído para uma maior compreensão do jogo, e do jogo à Belenenses, com este breve artigo.

O que dizem os jogadores...

Fernando Murteira (pilar): "Há clubes em Portugal que se distinguem muito pelo estilo de jogo. Seria possível distinguir diferentes escolas de Rugby, independentemente das cores das camisolas. A escola do Belenenses é conhecida por ser uma escola muito técnica, que previligia o jogo à mão e que gosta de atacar de toda a parte do campo. Tem uma Rugby muito atractivo e atacante."

Bruno Nifo (médio-de-formação): "Existe uma mística só nossa, penso que isso é até reconhecido pelos nossos adversários. Eles sabem que contra nós tudo é possível, mesmo durante uma época má somos capazes de ganhar à equipa que vai em 1º lugar no campeonato."

João Uva (capitão de equipa, 3ª linha): "O jogo do Belenenses é identificado porque é um jogo harmonioso, que gosta de atacar muito à mão, gosta de atacar os espaços, privilegia os três-quartos, é mexido, vivo e que tenta proporcionar bons espectáculos para quem vê os jogos de Rugby. Gostamos de jogar um Rugby apelativo e que seja cativante para as pessoas que estão do lado de fora a ver."

Diogo Pinheiro (três-quartos centro): "Falando de um estilo de jogo próprio, acho que acaba por estar um pouco interligado com a mística. Em primeiro lugar, o Belenenses dá sempre tudo em campo, com uma entrega e paixão muito especiais que fazem superar todas as dificuldades. Depois, jogamos um jogo muito dinâmico, aberto, e os nossos atletas têm geralmente grande técnica individual, o que possibilita um rugby atractivo e de qualidade."

Miguel Fernandes (3ª linha): "O nosso estilo de jogo é sempre bastante apaixonado, abnegado e com uma atitude humilde e corajosa. Acho que somos uma equipa bastante versátil, capaz de jogar diferentes géneros de jogo. Se é verdade que temos uma História de linhas de três-quartos fortes, rápidas e com muita técnica, a focar as atenções num jogo mais ‘aberto’, hoje em dia é também evidente que conseguimos impôr um jogo mais ‘fechado’ quando necessário, e jogar com outras armas que não só a nossa mais valia que é a enorme mobilidade da equipa. Temos um gosto especial em jogar num estilo dinâmico e ‘corrido’ e tentamos sempre ser nós a impôr a velocidade do jogo."

Salvador da Cunha (3ª linha): "Acho que somos uma escola com um rugby característico, jogado muito à mão e em apoio. Acho que o facto de esse tipo de jogo ter sido incutido desde os escalões mais baixos faz com que se formem jogadores com grande técnica individual e com grande capacidade de improviso. Acho que não é em vão que temos uma montanha de jogadores na selecção de Sevens onde estas características são indispensáveis."

Valter Jorge (2ª/3ª linha): "na minha opinião praticamos um jogo mais dinâmico e imprevisível, o que torna talvez um jogo mais bonito de se ver e praticar. Mas o que eu acho que a nossa equipa se diferencia mais das outras é sem duvida a raça e o coração que metemos dentro do campo. Exemplo disso foi o recente jogo contra a Agronomia em que conseguimos ganhar mesmo com 12 jogadores."

Pedro Rocha e Melo (Sub-20, defesa): "Penso que o Belenenses tem um jogo muito próprio que tem a sua principal arma a velocidade no ataque. Muitas vezes, falando da minha experiência destes últimos anos, fomos considerados uma equipa mais fraca por sermos mais baixos e fracos fisicamente que outras equipas como Direito, CDUL, Académica… A verdade é que a nossa garra e atitude defensiva aliadas à nossa determinação, velocidade e indiscutível técnica no ataque tem nos permitido fazer algumas surpresas. Penso que, acima de tudo, o Belenenses apresenta sempre equipas com grande potencial e uma atitude de muita humildade."