Tempos Modernos (VII)

Mais Pensamentos Soltos...

É evidente que um clube como o nosso pode e deve ter outras modalidades e julgo que a opção deve recair naquelas que não só tem mais historial de títulos, mas também naquelas que colhem junto do público adepto maior simpatia e creio não me enganar muito se afirmar que são o Andebol e o Futsal.

O ecletismo não pode ser um fim em si mesmo onde ficar em primeiro ou em último seja indiferente. Um clube que se esvaia em modalidades sem títulos de registo caminha alegremente para se tornar numa mera colectividade de recreio familiar e nós belenenses, não é com toda a certeza isso que desejamos.

Se queremos um clube ganhador temos que banir do Restelo aquela ideia que «o futebol tem que dar para o jogo do berlinde». As modalidades devem ser auto-financiadas e o clube só deve participar, minimamente, naquelas que tiverem «pernas para andar» isto é, todas aquelas que de facto se proponham de facto a trazer títulos para o clube e desportivamente o consigam.

A mudança tem claramente que ver com o clube que queremos ser. Isso passa como é evidente por traçar a priori a natureza das metas desportivas que se querem alcançar.

Queremos ser um clube mais ou menos eclético?
Queremos apenas participar competitivamente ou, por outro lado, participamos porque somos naturais candidatos a títulos em disputa?
Queremos ser um clube só de futebol?
E se assim for queremos também ser assumidamente, naturais candidatos aos títulos ou não?
E que tipo de dirigentes vamos querer ter?
Profissionais a tempo inteiro ou amadores a todo o tempo?
Remunerados ou não remunerados?
Imputáveis ou inimputáveis pelos seus actos de gestão?
E todo o tecido de recursos humanos do clube vamos querer mantê-lo também ao sabor do amadorismo leviano?

Como se pode verificar são muitas e de vária ordem as interrogações e poucas ainda as respostas.
O Belenenses precisa de um trabalho profundo a nível infra-estrutural e para tal é preciso que nos perfilemos face ao desafio que é:

RENOVAR - REJUVENESCER - REFORMULAR - REABILITAR - RESGATAR para o Belenenses um tempo novo e inovador feito necessariamente, do meu ponto de vista, de ruptura.

Uma ruptura profunda com toda uma mentalidade, uma atitude, uma postura que só trouxe ao clube a mais pura e putrefacta decadência quase no limiar da «prostituição». Este «velho» Belenenses - obviamente o dos últimos 35 anos - devemos desejar querer arquivá-lo como parte do nosso processo histórico e tratarmos de começar a escrever um «novo» Belenenses.

Um «novo» Belenenses com uma mentalidade e uma cultura nova para aceitar talvez, o seu derradeiro desafio que é sobreviver definitivamente, como grande clube de Portugal e por isso partir à reconquista de novos troféus.

Aos 89 anos só um clube com massa crítica associativa é que se dispõe repensar-se no desejo de querer viver uma nova era.

O que acontece é que o dirigismo dinástico ao modo de uma monarquia bacoca tem criado raízes no clube e está nele instalado de forma agudamente crónica desde os meados dos anos 70. Um dirigismo feito de erros crassos de gestão material, financeira, desportiva e humana…e que se tem recusado a aprender com as sucessivas fases da asneira que no Belenenses já dariam para uma cátedra.

A ideia que se criou sobre o facto de o clube viver claramente acima das suas reais possibilidades deve-se precisamente à total falta de visão e planeamento estratégico caracterizado desde há 30/40 anos por uma gestão suicidária.

Neste período o belenenses teve apenas um dirigente digno desse nome. Deixo à vossa consideração identificá-lo.

Passada esta trintena de anos está tudo em cacos desportivo -financeiros. Esta orfandade de liderança tem produzido claro prejuízo ao clube. Atrever-me-ei mesmo a afirmar um "crime de lesa majestade" ao Belenenses.

E porquê? Talvez porque não se cuidou prudentemente de consolidar a obra desse dirigente pois, afinal um dos grandes dramas do Belenenses tem sido não acautelar o futuro através da acção presente.

E depois, não são estes os dirigentes que de uma maneira ou de outra estão no clube desde então? Não serão eles responsáveis por aquilo que, ano após ano, tem vindo a penosamente impender sobre este grande clube?

O que sucede este ano não resulta somente da época célebre e de má memória época de 2005/2006. Creio que o tempo é soberano nestas coisas e inevitavelmente acabará por ditar, mais tarde ou mais cedo, a urgência de um novo Belenenses. Este não é certamente, o Belenenses que herdámos dos nossos pais e ou avós. E que pena imensa sinto que assim não seja!

Tremo só de pensar no dia em que este clube deixa de ser "meu", "vosso", "nosso" e daqueles que em hora inspirada nos pintaram de azul o destino e nos iniciaram nesta paixão infinda que nos enche o peito de vaidade por sermos azuis e não vermelhos nem verdes…por não sermos afinal de um clube qualquer!

Quantas vezes quantas, não antevi uma vitória, uma goleada, uma taça, um campeonato?

Quantas vezes quantas, não entristeci por ti?

Evito pensar nesse maldito dia em que já não haverá mais Belenenses, mas uma coisa qualquer ou quem sabe coisa nenhuma que se te compare ó clube que não nasceste para acabar!

Que orfandade sentiremos por saber que o sonho acabou se acaso ele acabar?

Que distância imensa entre o que eu sonhei de glória para ti ó clube sem tempo e aquilo que o tempo todo te tem dado...E não há ninguém que te salve ó Belém e te liberte desse grilhão pesado que se chama apenas a falta do homem do leme?