Tempos Modernos X

Mário Rosa Freire figura por demais carismática do Belenenses e ligado a momentos desportivos importantes na história do clube veio esta semana a terreiro proferir algumas declarações particularmente imprudentes, despropositadas até, sobre uma eventual chicotada psicológica.

Não se compreende como é que a oito jornadas do final da Liga Sagres e num momento tão crucial para as aspirações azuis se pode aventar semelhante aberração. Aliás as «chicotadas psicológicas» (expressão tão bárbara!) na história do Belenenses precisavam-nas mais alguns dirigentes que propriamente os treinadores, mas isso agora não vem ao caso.

O que importa considerar é que neste momento colocar em causa o trabalho do treinador é de bradar aos céus! Sejamos pragmáticos e não tanto emocionais. Queimar um treinador é fácil e no Restelo há um «cemitério» deles há anos. Devemos avaliar a situação de outra forma.

Se nos recordarmos dos últimos jogos nomeadamente, com o Paços de Ferreira, Sporting, Leixões, Naval, Guimarães e Estrela da Amadora, não exagerarei se adiantar que criámos 12 a 15 flagrantíssimas ocasiões de golo. O Sporting podia ter saído do Restelo vergado a uma derrota por 3–0 e acabou por ganhar 1–2 no último quarto de hora. O Leixões, em Matosinhos, não encaixou 3 golos só na primeira parte porque não calhou. Com a Naval, o jogo poderia ter ficado resolvido também na primeira parte e a nosso favor por 2-0 e afinal acabámos por perder já nos descontos.

Em Guimarães imediatamente após o empate e num rompante o Belenenses silenciou os 20 mil espectadores vimaranenses tal a forma como no primeiro quarto de hora do segundo tempo, não só repôs a igualdade como pareceu poder ganhar o jogo pelos mesmos números com que acabou por perdê-lo. Afinal dispôs de 3 grandiosas oportunidades para fazer o 1-2 sucessivamente por Ávalos, Roncatto e, mesmo junto ao poste direito da baliza do Vitória, por Wender quando era só encostar o pé. Parecia um vendaval demolidor! Com o Estrela da Amadora, e de memória recente em todos nós, alguém tem dúvidas que ao intervalo o resultado ao invés de ser 1-2 deveria ser 5-2 tantas as oportunidades desperdiçadas?!

Cabe aqui perguntar, e partindo das declarações de Mário Rosa Freire, sobre quem deveria afinal estalar o chicote? Será que foi Jaime Pacheco quem não conseguiu meter a redondinha nas redes? Tivesse entrado o remate do Vinicius em Matosinhos e, o Marcelo concretizado as flagrantes oportunidades que tem tido e queria ver quantos contestatários teria Jaime Pacheco. Acaso é também o treinador o responsável pela amiúde má colocação do Júlio César (pesem embora todas as qualidades que lhe reconhecemos) entre os postes e pelas suas extemporâneas saídas «a soco» à bola? É ele o responsável pelas aselhices da defesa? É ele o responsável pela falta de garra, atitude amorfa de alguns jogadores? Certamente que não! Jaime Pacheco foi sempre daqueles que nem aos feijões gostava de perder, o problema é que não tem muitos jogadores dessa estirpe no plantel.

Chamar os bois pelos nomes não é obviamente, mesmo vindo de quem vem, levantar sequer a possibilidade remota de chicotada. Se assim fosse o Alex Ferguson, não tinha durado uma época no Manchester. Na época passada o Paris Saint Germain andou sempre pelas ruas da amargura apenas se salvando na última jornada. Todavia, não ouvi nem li que algum dirigente do clube pensasse chicotear o Paul Le Guen, a oito jornadas do fim. Este ano nem parece a mesma equipa e…com o mesmo treinador! Por outro lado e reconheça-mo-lo as «chicotadas psicológicas» são tanto um tiro no escuro quanto uma maneira muito terceiro mundista de solucionar problemas.