O estado a que isto chegou

"Há diversas modalidades de Estado: os estados socialistas, os estados corporativos e o estado a que isto chegou! Ora, nesta noite solene, vamos acabar com o estado a que chegámos. De maneira que quem quiser, vem comigo para Lisboa e acabamos com isto. Quem é voluntário sai e forma. Quem não quiser vir não é obrigado e fica aqui."
Salgueiro Maia, na madrugada de 25 de Abril de 1974


Estou a imaginar os imensos pruridos e virgens ofendidas com a citação e com o citado mas a realidade é que não me importo nada. Quem os tiver no sítio que leia até ao fim. Quem não.... não faz falta nenhuma. Ajuda a filtrar porque o que precisamos agora é de gente com "eles" no sítio, peludos e escuros.

O estado a que isto chegou é um bom título. É óbvio e adequado ao momento. Falam em «Golpe de Estado» necessário. Concordo com a fundamentação do que é preciso fazer mas não com o termo. A expressão «Golpe de Estado» é inadequada da mesma forma que «Revolução» seria aplicando-a ao acto de demitir ou remover autoridade a quem actualmente a exerce. Eu explico. A forma de "tomar" o poder nesta altura não é utilizando meios violentos ou de outra forma ilegais. É através de mecanismos democráticos definidos na "Constituição" do Belenenses, vulgo Estatutos. Legal, não pela força. Não há que ter medo das palavras mas há que as aplicar correctamente.

Os Estatutos foram alterados o ano passado mas que, dizem-me e confirmam-me fontes oficiais, só muito recentemente foram publicados formalmente e estão em vigor.
Não sabia? É normal. É de extrema incompetência, ou ainda pior, o facto de isto ter acontecido e estes Estatutos novos não terem sido dados a conhecer aos Sócios, nomeadamente através do site oficial ou através de comunicação directa por carta aos mesmos, indicando, pelo menos, a sua existência e onde obtê-los para consulta. É uma vergonha, é inaceitável desrespeito, mas infelizmente é o costume e a verdade é que quase ninguém refila. Voltado ao tema...

Não podemos categorizar a mudança (na minha opinião) necessária de quem nos conduz os destinos, como «Golpe de Estado», referindo-se à deposição possível estatutariamente através da realização de Assembleia-Geral Extraordinária convocada para o efeito pela apresentação de requerimento com X assinaturas de sócios maiores de idade e com as quotas em dia. E digo X, ao invés do número exacto, porque sei que os tais novos Estatutos prevêem um número substancialmente inferior ao definido nos anteriores Estatutos. Disseram-me, não vi isso oficialmente publicado. Não tenho esse (aparente) privilégio.
Não é um «Golpe de Estado» convocar uma tal assembleia, não é um «Golpe de Estado» votar pela queda destes corpos gerentes em tal assembleia. Antes pelo contrário. É seguir os trâmites legais e instituídos na lei máxima do Clube, mesmo que pelos vistos ninguém tenha direito a sabê-los ou à sua existência.

Claramente estes corpos gerentes eleitos e em funções não são capazes e não é só por causa do óbvio que se tornou em termos de resultados desportivos no futebol. É óbvio em muitas outras coisas que não fazem, nem sabem, nem querem, nem querem saber e que, amiúde (cada vez menos), aqui tenho mostrado. Não me restam dúvidas que não servem para o que foram eleitos. Menos um voto desperdiçado nas últimas eleições, dirão. E com razão.

Mas o tempo e a experiência torna-me mais exigente. Quando eu próprio ajudei a promover a realização de uma assembleia com o mesmo propósito (início de 2008) fi-lo convicto na falta de condições dos corpos gerentes de então para levar o importante trabalho a cargo e fi-lo convencido que o Belenenses nunca caiu nem cairá no vazio de poder. Hoje sou mais exigente porque perdi a crença na inteligência e discernimento de quem vota embora respeite esse direito inalienável. Isto pela repetida ingenuidade e carneirice provada e que tem levado a que as direcções saiam sucessivamente umas dentro de outras ou de parte delas e que isso aconteça à força de alianças contra-natura que não de âmbito de (desculpem o termo) união geral. O estado a que isto chegou é a prova triste da profunda estupidez, crendice, ingenuidade da massa geral e dos interesses de alguns da casta. Triste? Sim, mas muito real.

Isto para dizer que se me aparecerem a pedir para assinar um requerimento para a convocação para uma Assembleia-Geral Extraordinária para demitir os actuais corpos gerentes, eu assino de bom grado. Estes não servem. Mas primeiro tenham o cuidado e respeito de explicar à plebe quem apresentam como solução e o que pretendem fazer e o como.
E há que assumi-lo, se existem. É tempo de se deixarem de unidades bacocas e silêncios para não perturbar a equipa de futebol (já estão perturbados q.b.) e assumirem desde já quem são, o que pretendem, quem têm convosco, quais são as soluções e parcerias, que caminhos perfilham para nos tirar deste buraco, o que pensam e com quem pensam fazê-lo. No fundo, perceber e permitir-nos acreditar que o que propõem é abrangente, verdadeiro, virado para os sócios e que tem hipótese de vingar. Seria um primeiro sinal importante de respeito aos Sócios mesmo que estes não se dêem a esse respeito. Façam-no sem rodeios. Façam-no já.

Expliquei porque não gosto do termo «Golpe de Estado». Não estou a ver que seja preciso tirar ninguém à estalada. Seria uma chatice e de todo inadequado. Julgo que não terá que acontecer algo assim embora nessa definição de «Golpe de Estado», verdade seja dita, pudessem caber todos os casos passados que me contam ter acontecido em sucessivas eleições incluindo coisas fantásticas como a vergonha das procurações e o modo como se obtêm, de vivos, mortos e entrevados. Se calhar isso sim é «Golpe de Estado» e obviamente sou contra. Gente muito popular fez isto, segundo me contam...

Não tenho medo das palavras e por isso digo, ou melhor, repito, o que já disse há muito e muitas vezes. O Belenenses precisa mesmo de uma revolução, sem aspas. Precisa de uma revolução de métodos, de organização mas acima de tudo mentalidades. Está, neste momento, mais que instituída a cultura do quer que se lixe, do encolher os ombros e do virar costas. Os nossos putos, gerações mais novas (e muitos graúdos) são uns autênticos ignorantes da nossa história e da nossa identidade e alarvemente repetem chavões que no mínimo mereciam uns calduços valentes. Embora não tenham culpa porque toda a vida não foram educados nesses princípios e o exemplo foi sempre o pior. Cresceram a ir ao Belenenses e vê-lo a ser tratado como merda pelos seus rivais (coisa natural já que não penso melhor deles) mas, inaceitável, assim tratado também pelos seus dirigentes e no fim de contas por muitos adeptos (os que os elegem). Não sabem mais e estão condicionados pela (falta de) educação que tiveram.

Esta revolução é imprescindível e há muito tempo que o é. É preciso educar os Sócios, instilar-lhes os princípios básicos (identidade, necessidade de participação, necessidade de salvar o Belenenses do fim e da extinção), é preciso fazer tudo para reunir os que se ausentaram, apelar ao seu regresso e justificar-lhes essa necessidade e a verdade honesta de porque o devem fazer e acreditar em quem se propõe a levar esse trabalho de recuperação a cabo.

Revolução é isto e o muito mais que deveria seguir-se a "chegar ao poder". Não se revoluciona para lá chegar. Revolução faz-se quando se tem as rédeas na mão e de preferência com o apoio popular (Sócios). Não tenham medo das palavras. Popular, sim. Esses mesmo que tantos já manipularam durante tanto tempo. Não tenham medo de palavras, tenham medo sim mas de estar na situação em que estamos associativa e desportivamente.

Mesmo que eu pessoalmente tenha avisado muitas vezes nestes escritos em que me exponho inclusive aos insultos dos merdas sem cara desta vida e deste meio (nojento muitas vezes como se constata), mesmo que eu tenha feito alguma coisa na prática, colaborando na medida do que me era pedido e além disso, para desdém dos vaidosos e dos medrosos da ofuscação, mesmo assim, dando-me os factos razão, tantas e tantas vezes e de forma tão evidente, nada disso me conforta ou alivia e é com o coração desfeito que assisto a tudo isto.

Se os houver por aí, quem esteja disposto a mudar nestes termos o "estado a que isto chegou", fico contente. Esperança é que é uma coisa que duvido que me volte.