Parábola das Tristes Décadas...


Há trinta e cinco anos que vocês nos manipulam, nos dominam, nos mentem, nos omitem, nos desprezam.

Há trinta e cinco anos que nos roubam, não só os bens imediatos de que carecemos, como a esperança que alimenta as almas e favorece os sonhos.

Há trinta e cinco anos que cometem o pior dos pecados, aquele que consiste na imolação da nossa vida em favor da vossa gordura.

Há trinta e cinco anos que traem a Deus e aos homens, sem que a vossa boca se encha da lama da mentira.

Há trinta e cinco anos que criam legiões e legiões de desempregados, de desesperados, de açoitados pelo azorrague da vossa indignidade.

Há trinta e cinco anos que tripudiam sobre o que de mais sagrado existe em nós.

Há trinta e cinco anos que embalam as dores de duas gerações de jovens, e atiram-nos para as drogas, para o álcool, para uma existência sem rumo, sem direcção e sem sentido.

Há trinta e cinco anos que caminham, altaneiros e desprezíveis, pelo lado oposto ao das coisas justas.

Há trinta e cinco anos que são desonrados, torpes, vergonhosos e impróprios.

Há trinta e cinco anos que, nas vossas luras e covis, se acoitam os mais indecentes dos canalhas.

Há trinta e cinco anos que se alternam no mando, e o mando é a distribuição de benesses, prebendas, privilégios entre vocês.

Há trinta e cinco anos que fazem subir as escarpas da miséria e da fome milhões de pessoas que em vocês melancolicamente continuam a acreditar.

Há trinta e cinco anos que se protegem uns aos outros, que se não incriminam, que se resguardam, que se enriquecem, que não permitem que uns e outros sejam presos por crimes inomináveis.

Há trinta e cinco anos que vocês são sempre os mesmos, embora com rostos diferentes.

Há trinta e cinco anos que os mesmos jornais, sendo outros, e os mesmos jornalistas de outra configuração, sendo a mesma, disfarçam as vossas infâmias, ocultam as vossas ignomínias, dissimulam a dimensão imensa dos vossos crimes.

Há trinta e cinco anos sem vergonha, sem pudor, sem escrúpulo e sem remorso.

Há trinta e cinco anos que não estão dispostos a defender coisa alguma que concilie o respeito mútuo com a dimensão colectiva.

Há trinta e cinco anos que praticam o desacato moral contra a grandeza da justiça e a elevação do humano.

Há trinta e cinco anos que, com minúcia e zelo, construíram um país só para vocês.

Há trinta e cinco anos que moldaram a exclusão social, que esculpiram as várias faces da miséria e, agora, sem recato e sem pejo, um de vocês faz o discurso da indignação.

Há trinta e cinco anos começaram a edificar o medo, e o medo está em todo o lado: nas oficinas, nos escritórios, nos entreolhares, nas frases murmuradas, na cidade, na rua. O medo está vigilante. E está aqui mesmo, ao nosso lado.

Há trinta e cinco anos encenaram e negociaram, conforme a situação, o modo de criar novas submissões e impor o registo das variantes que vos interessavam.

Há trinta e cinco anos engendraram, sobre as nossas esperanças confusas, uma outra história natural da pulhice.

Há trinta e cinco anos que traíram os testamentos legados, que traíram os vossos mortos, que traíram os vossos mártires.

Há trinta e cinco anos que asfixiam o pensamento construtivo; que liquidaram as referências norteadoras; que escarneceram da nossa pessoal identidade; que a vossa ascensão não corresponde ao vosso mérito; que ignoram a conciliação entre semelhança e diferença; que condenam a norma imperativa do equilíbrio social.

Riam-se, riam-se. Vocês são uma gente que não presta para nada; que não vale nada.

Malditos sejam!
(Batista Bastos)

Saravá Grande Raúl. Bebe Junto à Estrela Polar, uma Taça de Champanhe por todos nós!

Saravá e Saúde para ti Chefe Evaristo, que tratas tão bem os nossos estômagos!

Saravá Grande BB, Saúde e um Tchin-Tchin Especial, a Altivez e Honestidade Intelectual Nunca Foram Tão Necessárias Como Agora !