Mulemba Secou!



No barro da rua,
Pisadas, por toda a gente,
Ficaram as folhas
Secas, amareladas
A estalar sob os pés de quem passava.

Depois o vento as levou...

Como as folhas da mulemba
Foram-se os sonhos gaiatos
Dos miúdos do meu bairro.

(De dia,
Espalhavam visgo nos ramos
E apanhavam catituis,
Viúvas, siripipis
Que o Chiquito da Mulemba
Ia vender no Palácio
Numa gaiola de bimba.

De noite,
Faziam roda, sentados,
A ouvir, de olhos esbugalhados
A velha Jaja a contar
Histórias de arrepiar
Do feitiçeiro Catimba.)

Mas a mulemba secou
E com ela,
Secou tambem a alegria
Da miúdagem do bairro;

O Macuto da Ximinha
Que cantava todo o dia
Já não canta.
O Zé Camilo, coitado,
Passa o dia deitado
A pensar em muitas coisas.
E o velhote Camalundo,
Quando passa por ali,
Já ninguém o arrelia,
Já mais ninguém lhe assobia,
Já faz a vida em sossego.

Como o meu bairro mudou,
Como o meu bairro está triste
Porque a mulemba secou...

Só o velho Camalundo

Sorri ao passar por lá!...
(Aires Almeida dos Santos)

*Mulemba = A chamada Figueira Africana

Apostilha : No Belém há muito que a Mulemba secou, mas apenas poucos deram por isso! Antigamente para ter direito e a honra de sentar sob a "mulemba", era preciso todo um ritual de serviço servido, adepto, associado, seccionista, director, vice, e finalmente, presidente. Agora, com os advento da tecnologia, fabricas um mulembeiro da noite pró dia, de pantufas, mas não tanto. Basta falar, inglês e inglês, ser do partido do fugitivo desta vez, e aí tens o próximo desconhecido, mas descarado freguês. A ver vamos como diz o cego! Os familiares brincaram na pedreira abandonada com os primos Carlos Ramos, e sonharam com o imobiliário, a cobiça, os terrenos da meninice e da manhiça, porque industrial astuto não brinca, espreita a melhor situação, e ferrinca, só que há vezes! Que não trinca...;