Não Leia, Isto é Velho de 75 Anos ...

Então, recapitulemos. A agência de rating Moody's baixa a
nota da Grécia; as taxas de juro explodem; o país declara
falência; a população revolta-se; o exército toma o poder,
declara-se o estado de urgência e um general é entronizado
ditador; a Moody's, arrependida pelas consequências, pede
desculpa... "Alto!", grita-me um leitor, que prossegue:
"Então, você começa por dizer que vai recapitular e, depois
de duas patacoadas que todos conhecemos, lança-se para
um futuro de ficção científica?! " Perdão, volto a escrever
então, recapitulemos. Só estou a falar de passado e vou
repetir-me, agora com pormenores. A Moody's, fundada em
1909, não viu chegar a crise bolsista de 1929. Admoestada
pelo Tesouro americano por essa falta de atenção, decidiu
mostrar serviço e deu nota negativa à Grécia, em 1931. A
moeda nacional (dracma) desfez-se, os capitais fugiram, as
taxas de juros subiram em flecha, o povo, com a corda na
garganta, saiu à rua, o Governo de Elefthérios Venizelos
(nada a ver com o Venizelos, atual ministro das Finanças)
caiu, a República, também, o país tornou-se ingovernável e,
em 1936, o general Metaxas fechou o Parlamento e
declarou um Estado fascista. Perante a sua linda obra, a
Moody's declarou, nesse ano, que ia deixar de dar nota às
dívidas públicas. Mais tarde voltou a dar, mas eu hoje só vim
aqui para dizer que nem sempre as tragédias se repetem em farsa,
como dizia o outro. Às vezes, repetem-se simplesmente.

FERREIRA FERNANDES
publicado DN a 2012-02-08 às 01:05