Orçamento 2008: a minha previsão

Pertenço a um conjunto de pessoas que tem a estranha ideia de que o Belenenses devia ser um Clube eminentemente desportivo. Devíamos ser um Clube, com adeptos – muitos –, sócios, com paixão devidamente fomentada, com auto-promoção de produtos, serviços e imagem, um primor de estratégia de comunicação para obstar ao ambiente adverso em que nos inserimos. Sempre mais, sempre melhor.

Mas não. Não somos nada disto. Conseguimos – único no mundo – ser o mais despido possível nestes predicados, autenticamente deslavados, mas muito engomadinhos, muito queridos, fofos e louros. Era (porque agora já há profissionais) o amadorismo de gestão? Se calhar não, pois se há amadores profissionais também há profissionais amadores. Se calhar era (ou é, vamos ver) um problema de qualidade, de capacidade, de organização de objectivos correctos e, também, de competência.

Conseguimos esse feito fantástico de ser O Clube Campeão em preocupação pelas continhas certas sem nunca as ter e – se por uma vez as venhamos a ter e com condições para crescer – arranjamos maneira de esborrachar tudo em copos, em mama (singular) e em miríades modalidades sem interesse, sem público, sem jeito nenhum, nem que caiam no descalabro a curto prazo as que o têm (público). Não é difícil a quem não tenha venda nos olhos ou problemas de retenção de memória, encontrar consulados, mesmo recentes, em que, numa fúria demolidora, assim se tenha procedido. Os resultados estão à vista de todos, em vários tristes acontecimentos recentes relacionados com o Basquetebol, Andebol, Rugby e acordar sobressaltados sonhando (ou pesadelando) que venha o próximo que não me surpreende.

Fantástico como se conseguiu fazer orçamentos contra os Estatutos, que prevêem maiores despesas que receitas (e nem era preciso que estes o estipulassem – é do mais básico senso-comum) sem os pareceres obrigatórios do Conselho Fiscal (segundo o art. 24º nos seus Nºs 1 e 2), sem um pio ou impugnação.

Clube sui generis este.

Aliás, o Conselho Fiscal é, para mim, o mais provadamente inútil órgão social do Belenenses – sim, mesmo mais que os outros – porque se chegámos a este ponto é porque ele não fiscaliza. Ou, caso fiscalize, não alerta ou denuncia e então estamos rodeados de incompetentes que andam lá só para a fotografia. Nada de novo ou muito surpreendente aqui.

Chegamos assim, uma vez mais, à encruzilhada anual em que a previsão que entendo realista diz-me que vamos estar, face a um orçamento absurdamente autista às dificuldades financeiras (ou de tesouraria como agora é moda) e continua na senda dos anteriores ou, ainda, absolutamente irresponsável, assentará no aumento de quotas. E, se se verificar, continuamos a rejeitá-lo como fizemos ao de 2007 e continuamos na base dos duodécimos do irrealismo de 2006, ou exigimos novo e caso não a direcção não o faça demitimo-los? A propósito alguém viu a re-submissão à AG do dito orçamento 2007 inicialmente chumbado?

Esperar desta direcção um orçamento bom, que assuma um corte radical com as práticas laxistas que nos deixam à beira do precipício, não é realista. Um orçamento bom que diminua despesas (que as há supérfluas) mas que saiba atingir um forte aumento de receitas? Não creio. Prevejo sim, como referi há dias, uma nova tentativa de aumento de quotas o que, com uma massa associativa anoréctica e em recusa de tratamento, é crime-de-lesa-Belém ainda maior.

Chegaremos a esta encruzilhada no próximo dia 3 de Dezembro. Mais uma data que viola a lei estatutária – limite da A.G.O. do orçamento é 30 de Novembro (Artº 25 Nº1). Estou certo que teremos os mesmos cento-e-pouco sócios para apreciar a proposta da direcção para orçamento de 2008. Aqui a minha previsão vai no sentido de que, tão borrados que estamos de tudo o que tem saído nas notícias, só não aprovamos o orçamento de cruz se este conseguir exceder em muito a loucura e irresponsabilidade dos anteriores, que tivemos o bom-senso de rejeitar (mas não de impedir a sua execução).

Se isto é futurologia dir-me-ão depois. Mas que a conversa das contas, dos borrados de medo e dos “ai ai ai que vem aí abutre” já enjoa, isso já. É espectacularmente triste como, com a casa roubada e vazia, haja ainda quem grite vem aí ladrão de cada vez que alguém contesta ou desmascara.


Nuno Gomes

Nota: a data de publicação deste apontamento poderá ser posterior à colocação das fotocópias do Orçamento na Secretaria por parte da direcção. No entanto, como já não se publica no site do Clube nem Orçamento nem Relatórioe Contas, este texto manter-se-à inalterado mesmo em face dessa possibilidade e será publicado no momento mais próximo possível da AGO na semana anterior à realização da mesma.

Para mais, quem tenha a possibilidade de obter o referido "papelito" do Orçamento, faça a sua boa acção e mande para a caixa de correio que teremos todo o prazer em publicar o mais rapidamente possível.