“Amor ao Clube de Futebol «Os Belenenses».
Mentalidade Ultra. União e Amizade. Coragem e Determinação.
Este é o espírito de 84, estes serão sempre os nossos valores
para a defesa do mais bonito símbolo do mundo, o do C.F.B. ”
Lema da Fúria Azul
A minha primeira intervenção neste espaço não podia ser dedicada a mais ninguém. Porque são eles que (e quase só eles), quer esteja a nevar, a fazer sol ou “nem que chova canivetes”, estão lá. Seja “lá” onde quer que seja que o Belém jogue e a que jogue, está a Fúria Azul. Não tenho capacidade para exprimir-me em palavras o quão grato estou à Fúria por carregar a tocha de ser Belenenses. São, face ao desmembramento calculista e calculado de uma outrora grande massa adepta, a última réstia de intenso e constante azul verdadeiro.
É preciso ter consciência que, nestes dias que correm, a Fúria Azul vive tempos difíceis, muito difíceis, talvez os mais difíceis de sempre. Se por um lado há a generalizada indiferença dos sócios e, nalguns casos, do foro psiquiátrico, profunda aversão à vida que este abnegado grupo de Belenenses traz aos estádios que percorre e ao apoio constante com que brinda tantas equipas do Belenenses, preferindo focar-se nos (poucos) pontos negativos, temos mais recentemente uma aversão ou pelo menos uma indiferença directiva face à existência de uma lei fascista que os impede de, em plena liberdade ordeira, continuar a dar todo o colorido que lhes é habitual.
É, assim mais do que nunca, preciso que tudo se faça para que essa força não morra, abrupta ou lentamente, em face da injusta lei e das suas consequências, às mãos da indiferença que infelizmente grassa no Belenenses. Mesmo que isso pareça implicar um passo atrás numa luta justa. O mais alto valor está estampado no lema com que dou início a este apontamento e o cair no que os nossos opositores internos e externos querem – contribuir para acabar um pouco mais com o C.F.B. como o queremos, grande, vivo e participado.
Falo assim porque o sinto.
Porque na Fúria vejo «O» último grande foco de resistência de verdadeiro azul sobre o negativo cinzento ou sobre outras pigmentações estranhas.
Falo assim pois conheço-vos o suficiente pelas centenas de quilómetros que já percorremos lado a lado sei que não estou a falar para um grupo de racistas, xenófobos, violentos e desordeiros, como tantas claques que vejo por este país.
Falo assim também porque tenho hoje a honra de ser sócio da Fúria Azul, apesar de não ter a vossa capacidade de sacrifício na presença constante no apoio às equipas do Belenenses (refiro-me a fora do Restelo) razão pela qual não sou digno de ostentar o orgulhoso título de “Ultra”.
Assim mesmo os meus dados pessoais fazem parte da base de dados de sócios da Fúria Azul e estão mais do que prontos para ser vasculhados e espiolhados em solidariedade total. Assim como assim, os meus dados já estão mais do que habituados a ser espiolhados e invadidos por olhos estranhos por diversas razões que não cabem aqui.
A Fúria Azul é aquilo a que eu chamo um outro gigante adormecido. É verdade que hoje os seus mais activos participantes não são em tão grande número como em tempos idos (também a F.A. sofreu com o esvaziamento geral) resiste muito melhor que o próprio Clube pois continua imbuída do espírito verdadeiro, permanece irreverente e independente e é verdadeiramente azul. Ao contrário de outros sectores do Belenenses em que é cada vez mais difícil encontrar essa irredutibilidade.
Mesmo assim, julgo não errar se disser que na Fúria Azul se integrarão algumas centenas de sócios do Belenenses. E sendo sócios do Belenenses de pleno direito poderiam e, atrevo-me a dizer, deveriam, intervir e não só nas questões que dizem respeito ao grupo. Porque também aí o Belenenses precisa deles. Muito. Especialmente porque são também, aos olhos da lei fundamental do Belenenses – os seus Estatutos – sócios como os outros.
A vida associativa do Belenenses é, sem a Fúria, tal como na bancada, um autêntico cemitério. Isto é mais do que constatável em qualquer Assembleia-Geral. A pouca consciência que têm do vosso poder real (perdoem-me esta assumpção se estiver errado), enquanto sócios de pleno direito, será o que mais vos impede de resolver muitos dos vossos próprios problemas, dos que sentem actualmente em poder fazer aquilo que melhor fazem e vos impedem. Custa-me muito, assim, perceber como não têm noção do peso que podem ter na tomada de decisões no Clube e na força que possuem para mudar o rumo que tomamos. Ou se a têm, como dela não fazem uso. E a falta que isso faz ao Belenenses que definha mais e mais de dia para dia.
A vossa intervenção “cívica” de quem sente o Belenenses tão profundamente, ao ponto de abdicar de tanto da vossa vida pessoal sem nada receber em troca (excepto o “prazer de ser ultrá”) é absolutamente necessária num momento em que o Azul está tão arredado da direcção que o Clube toma.
Não poderia terminar sem deixar outro agradecimento especial, que vai para o Luís Silva, pessoa que respeito e estimo e que, enquanto pastel, devo o agradecimento permanente por ver povoado a nossa retina com imagens únicas de muitos e muitos momentos do nosso Belenenses. E este agradecimento é tanto maior quanto maior é o desinteresse daqueles que deviam ser os órgãos de comunicação social desportiva, mas que acabam por ser apenas os situacionistas vendidos e rendidos (sem grande dificuldade) ao totalitarismo tricéfalo do desporto português.
Luís, obrigado. E obrigado também por algumas das imagens que capturaste e que aqui utilizámos na feitura do cabeçalho deste espaço e outras que se pode ver em “Digno feito de ser...”, no topo da coluna da direita. E tantas outras que não consigo precisar.
Há imagens que se esquecem, que se apagam ao longo do tempo. Mas esta sei que nunca vou esquecer, até porque será muito difícil que se repita. Pelo cenário e pela lei cega que permite a “legalização” de marginais neo-nazis, mas não permite a vida “fora-da-lei”, de quem quer simplesmente apoiar o seu Clube cantando e colorindo as bancadas.
Um pouco mais de Azul, é o que faz falta ao Belenenses. E a Fúria têm-no em quantidade mais que suficiente para a emprestar a quem se queira deixar contagiar. Assim queiramos todos tomar o nosso destino nas nossas mãos.
Nuno Gomes
