Referi esta madrugada, acabado de chegar da Assembleia-Geral, que teceria algumas considerações sobre a AGO e ao modo como decorreu.
Aqui estou a cumprir com essa promessa mas, confesso, sem nenhuma vontade.
Apesar de não terem ocorrido distúrbios que levassem à interrupção dos trabalhos (e ainda bem) penso que assisti ontem a um dos mais degradantes "espectáculos". Uma Direcção eleita há apenas 7 meses e que tomou posse poucos dias depois, continua a ser incapaz de apresentar um orçamento realista. É a minha apreciação. Por esse facto foi novamente chumbada a sua proposta de orçamento, desta vez para 2008.
O mais chocante para mim enquanto associado do Belenenses foi a incapacidade e nenhuma vontade de responder a perguntas perfeitamente legítimas que alguns associados colocaram. Foram ignoradas apesar de repetidas diversas vezes. Relembro que a Assembleia-Geral é a reunião magna dos sócios do Clube e que a Direcção está obrigada a prestar contas. Assisti com alguma desilusão ao beneplácito do Presidente da Mesa da Assembleia-Geral face a este incumprimento.
Não sou técnico de contas, economista ou gestor financeiro e por isso não vou entrar nesse tipo de detalhes, mas se houve algo óbvio para mim foi que esta era uma proposta irrealista essencialmente por estas razões principais:
-- previa um aumento de receitas por via de uma previsão de aumento associativo (nº de sócios) e não por via do aumento de quotas (isto foi confirmado pelo próprio VP Viana de Carvalho). Depois de 2 anos e meio com esta Direcção e 4 no total que venho batendo nesta tecla e não acredito hoje que essa intenção seja genuína e, mesmo que o fosse, muito menos acredito na capacidade de levar a cabo uma campanha frutuosa. Cabral Ferreira referiu que em Janeiro de 2007 havia cerca 10.100 sócios e em Setembro de 2007 cerca de 10.900, como se esse fosse um feito assinalável em momento de baixa anímica dos belenenses, quanto mais no momento mais alto de entusiasmo dos últimos 18 anos, voltando à Final da Taça de Portugal e às competições europeia. Verdadeiro miserabilismo.
-- previa um aumento de receitas provenientes de patrocínios perfeitamente exorbitante face à capacidade previamente demonstrada em dois anos e meio de gestão Cabral Ferreira, sem indicar como (que tipo de campanha com que alvos e por que canais) e de onde ou onde estava a dotação para tal campanha que, mesmo na forma minimalista habitual (dentro de muros do Restelo) tem custos.
-- mostrava uma total incapacidade de decisão e imposição de uma política racional de despesas e de sustentabilidade em termos de que modalidades manter/apoiar apesar de a isso se arrogar. Gerir é decidir.
Fiquei elucidado face à viabilidade da execução deste orçamento e teria sempre de votar contra por convicção e, especialmente, por saber que independentemente do resultado da votação a execução do orçamento mais uma vez seria aquilo que a Direcção quisesse e essa continua a não dar quaisquer garantias apesar do discurso de intenções reformistas do VP Viana de Carvalho quanto aos processos e organização do "departamento de contabilidade".
Após o chumbo pelos valores que refiro no post anterior. A segunda proposta da Direcção referia-se ao aumento dos valores das quotas dos associados que, segundo informaram, desde 2003 que não eram revistas.
Da proposta de 10 pontos, os primeiros 9 referem-se a aumento dos tipos de quotas existentes (contribuinte e outras indexadas, correspondente e azul) aumento dos valores de cativos, camarotes e parqueamento. Em caso de aprovação o seu efeito seria compulsório.
Já o efeito da aprovação do 10º ponto, que se referia à criação de quotas diversas de apoio a cada modalidade (Amigos da Modalidade X) de valor mensal proposto para 5€ tinha todas as condições para ser aprovada se votada separadamente. Assim e porque considerava que o seu efeito não era compulsório e que os sócios adeririam ao seu pagamento consoante a sua vontade e a(s) suas(s) modalidade(s) de eleição, dirigi-me à Mesa da Assembleia (e não à Assembleia) no sentido de pedir ao Presidente da Mesa da AG e à Direcção que considerassem a separação da proposta em duas: uma com os primeiros 9 pontos e uma segunda com o 10º ponto, pois, com o mais que provável chumbo dos 9 primeiros pontos pelo menos assim (e estando certo da aprovação do 10º por larguíssima maioria) poderia amanhã mesmo a Direcção emitir essas quotas e divulgá-las começando o mais rapidamente possível a tentar minorar o problema profundo (de tesouraria e não só) de que padece o Clube no cumprimento das suas obrigações aos atletas e que tão badalado (e com tão negativas consequências) na comunicação social sempre pronta a amplificar o negativo.
Infelizmente a Direcção não o quis fazer e assim nem o ponto 10º foi aprovado, como era lógico. O mais caricato nesta situação é que a Direcção nem necessita da aprovação dos sócios em AG para proceder à criação destas quotas e mesmo assim, mesmo avisada para o mais que provável chumbo do "pacote", optou por não proceder à separação, mesmo após o Presidente da Mesa ter considerado que isso seria possível cabendo à Direcção propô-lo.
Tenho para mim que a Direcção não vai fazer nada quanto a isto e que apesar de não precisar da AG para criar e estabelecer preço esta quota facultativa "amigos da modalidade X", não a vai criar de qualquer forma. Oxalá os próximos dias me provem o engano.
De referir que a AG registou inicialmente um número apreciável de consócios, diria cerca de 200, número que contrasta com os votantes no final (119 na proposta de orçamento e 109 na de aumento de quotas) devido à saída de muitos pelo adiantado da hora e pelo arrastar de discursos longos, desviando-se cuidadosamente e sem responder concretamente, por parte da Direcção, facto que atribuo a uma tentativa infrutífera de vencer pelo cansaço. Outro pormenor. De forma perfeitamente legal mas que nãoé prática habitual, nos votos a favor estão contabilizados os votos dos elementos da Direcção presentes na Mesa (julgo que a totalidade da Direcção estava presente) e, corrijam-me se estiver enganado, do Conselho Fiscal e Disciplinar. Apenas os elementos da Mesa da Assembleia-Geral não votaram, embora também o pudessem fazer e, em caso de empate, o Presidente da Mesa da Assembleia-Geral tem voto de qualidade de acordo com os Estatutos.
É necessário tirar daqui as respectivas consequências. Confesso que ficaria extremamente surpreendido caso a Direcção viesse a submeter nova proposta de orçamento para 2008 e ainda mais surpreendido ficaria caso se viesse a demitir. Para mim tenho que caso nada seja feito, se continue a fictícia execução por duodécimos do orçamento de 2006 e continue o descalabro e o descontrolo, sempre com o alheamento e beneplácito totais do Conselho Fiscal e Disciplinar, para mim, no actual estado, o mais inútil órgão social do Clube.
Termino apenas com um comentário que (já não) antecipa o típico comentário sobre estes repetidos resultados por parte dos apoiantes desta (falta de) Direcção. Que há um conluio para bloquear a governação de uma Direcção democraticamente eleita e que quem vai às AGs é um grupo de malfeitores que quer tomar de assalto o Clube.
Ironicamente refuto esta falta de discernimento já habitual, referindo que muito provavelmente isto sucede porque esses mesmos malfeitores que chumbam o orçamento repetidamente devem certamente sequestrar nas suas casa os (esses sim!) bons sócios, os apoiantes de Cabral Ferreira e da sua excelente Direcção, impedindo-os assim de dar o seu voto favorável. Malandros dos malfeitores. Não é difícil perceber como o Belenenses chegou a este ponto crítico. Resta saber se há retorno.
Nuno Gomes
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Propostas chumbadas II
Publicado por Nuno Gomes @ 4.12.07 Etiquetas: CFB - Orçamento 2008, Nuno Gomes