Rugby: Entrevista de Bryce Bevin
«Diário de Notícias», 7 de Maio de 2008

"Num dia bom podemos vencer qualquer equipa"
Entrevista com Bryce Bevin, treinador de râguebi do Belenenses, Campeão Nacional 2007/08

DN: Há alguns meses, e com o Belenenses a meio da tabela, confessou aos responsáveis do clube que ia apurar a equipa para os play-offs e que seria campeão. De onde vinha toda essa certeza?
BB: Analisei bem os adversários, estudei a fundo o meu plantel e vi que todos, inclusivamente nós, tinham problemas. Não havia nenhuma equipa, nem sequer a campeã Agronomia, que fosse muito superior às outras. E percebi que num dia bom, poderíamos explorar essas deficiências e vencer qualquer rival.

DN: Não acha que a sua equipa, na final de sábado, foi um pouco ingénua, arriscando em demasia ao insistir em jogar à mão de qualquer lado, mesmo quando tinham um homem a menos?
BB: Concordo. O plano de jogo que resolvemos aplicar era arriscado e consistia em manter a bola nas nossas mãos o mais que pudéssemos, pois temíamos os pontapés do Joe Gardener. Na 1.ª parte não seguimos perfeitamente o combinado e assim, no 2.º tempo, decidi mudar um pouco, deixando de tentar circular a bola até aos pontas, e começámos a usar mais as entradas do médio de abertura e, especialmente, do 1.º centro Diogo Mateus.

DN: Confesse que, após a recuperação de Agronomia e quando se viu a perder a um minuto do fim, temeu já não conseguir dar a volta ao resultado...
BB: Não, sempre senti que se tivéssemos posse de bola nos poucos minutos de desconto, seríamos capazes de marcar o ensaio. Não tinha fé nos meus chutadores - eles até falharam duas fáceis penalidades - e portanto sabia que a vitória teria que surgir através de um ensaio, nunca em pontapés.

DN: Quais foram os principais factores que levaram à conquista do título nacional?
BB: Houve vários, mas o ponto de viragem foi o regresso dos internacionais após a longa paragem devido aos jogos da selecção. A partir daí, o capitão João Uva foi primordial e inspirou toda a equipa. Eu privilegio nos treinos a melhoria técnica dos jogadores, mas passámos então a treinar menos e a fazer um trabalho diferente. Decidi adaptar o modelo de jogo às características dos elementos que dispunha, os jogadores uniram-se mais e resolvemos que a equipa se ia divertir a jogar, mais desinibida, sem preocupações de títulos... e resultou.

DN: Qual foi o jogo mais decisivo?
BB: Foi a vitória, na 12.ª jornada, sobre o Benfica (32-18), na Sobreda, onde jogámos sem quatro titulares que estavam nos sevens, e no qual o João Uva marcou quatro ensaios. Aí robustecemos, em definitivo, o espírito e a coesão da equipa.

DN: Como foi a adaptação de um neozelandês a um clube latino?
BB: Cheguei a 1 de Setembro ao Restelo e tenho de confessar que demorei quatro meses, até final de Dezembro, a perceber bem o espírito português e a estrutura do clube, a descobrir quem mandava e quem poderia ajudar-me em determinadas áreas. Mas agora acho que tudo está esclarecido e a correr bem.

DN: Gostaria de renovar o contrato e tentar ser bicampeão em 2009?
BB: Claro que gostaria de ficar por cá mais uns tempos. Eu e a minha família gostamos de Portugal, onde temos sido muito felizes. Estou a aguardar uma reunião com os responsáveis para poder definir o meu futuro, que gostaria que passasse pela continuidade no Belenenses.
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Renovados parabéns, extensíveis a todos os que tornaram a conquista deste título possível e reafirmo o meu desejo da sua continuidade.