Cambada de 'estúpidos', estes malagueños

Málaga quer melhorar contrato de Eliseu
(«A Bola» Online, 08/10/2008)

Motivados pela exibição de Eliseu na última jornada da Liga espanhola, os dirigentes do Málaga querem melhor o contrato e prolongar o vínculo do avançado português ao clube da Andaluzia.
O Málaga foi, no passado domingo, a Huelva bater o Recreativo por 0-4, em jogo da 6.ª jornada da Liga espanhola. Eliseu abriu a contagem logo no primeiro minuto, assistiu outro português do plantel, Duda, para o terceiro golo, já na segunda parte, e fechou a contagem num resultado que teve como consequência a demissão do treinador do Recre, Manolo Zambrano. Exibição que levou a imprensa espanhola a considerar o jogador como «um dos mais determinantes do campeonato».
Posto isto, e conscientes do aumento da cotização do jogador no mercado e da actual cláusula de rescisão (600 mil euros), os responsáveis pelo Málaga têm prevista uma abordagem no sentido de melhorar o contrato e aumentar da referida cláusula. O clube já deu a conhecer, ainda que informalmente, a sua intenção de prolongar o vínculo com o ex-jogador do Belenenses, o que deixou o português satisfeito. «Oxalá continue a jogar pelo Malága na primeira divisão por muitos anos», disse
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Farto de anos a fio andar a pregar no deserto sobre as virtudes e necessidade absoluta de apostar na formação e nos seus frutos e na prospecção (em todos os escalões do futebol nacional) para fornecimento primordial e fundamental de jogadores à equipa principal, vejo nestas notícias um vislumbre de razão e um sinal de que não sou completamente ignorante na matéria.

Habituei-me na última década a ver esses frutos da formação a sair do Belenenses pela porta pequena, num desperdício absoluto. Raras são as excepções que não sairam assim, sob o epíteto de bêbedos, "que querem é boa vida", calões e "sem qualidade". Frequentemente isto era mentira. Nomes como Ruben Amorim, Rolando, Fajardo, Eliseu, Gonçalo Brandão, só para citar os mais recentes no tempo, são disso exemplo. Mas muitos outros se perderam pois nem tempo tiveram de se mostrar via selecções nacionais sub-qualquer coisa. São muitos os nomes e não vale a pena listar todos. No caso de Rúben Amorim e de Rolando estes sairam sem que o Clube pudesse ver justa compensação pelo trabalho desenvolvido e pelas apostas feitas, na mais bárbara e óbvia constatação da estupidez e incúria da nossa "estrutura".

É verdade que alguns destes jogadores se perderam na memória e, alguns, perderam-se mesmo para o futebol. Alguns até bastante talentosos mas que não quiseram trabalhar. E não houve uma estrutura e uma política que os ajudasse a ver "o caminho". Outros houve que quiseram e não tiveram hipótese pois os lobies dos empresários e os interesses de supostos belenenses e que não os do Belenenses se sobrepuseram. Esta política perdeu-se, nunca se pôde implementar e inclusive perderam-se os frutos selvagens (porque não foram propriamente cultivados, apenas brotaram espontaneamente). Eliseu é um dos exemplos. A sua saída chocou-me.

Assim chegámos ao ponto em que estamos. Escondidos atrás do laxismo, dos interesses privados (por oposição aos da colectividade), tivemos nos últimos anos uma rotatividade absolutamente anormal de jogadores mesmo para clubes ricos ou com grandes patronos. O que, todos concederão, é tudo menos o nosso caso.

Sempre que defendi esta tese e apontei este caminho não faltaram nunca as vozes, ignorantes e pomposas, a dizer que "não é por aí", que "não temos estrutura", isto ao mesmo tempo em que vemos clubes de dimensão local fazê-lo e com os quais podíamos estabelecer protocolos duradouros e proveitosos. É mais fácil recorrer e depender de treinados-empresários, treinadores-comissionistas-de-salários-de-jogadores, de treinadores-que-são-também-directores-desportivos/gerais? Sem dúvida que sim! É mais fácil para os pavões que querem dar nas vistas e ter vida fácil. É mais fácil para quem se queira encher à conta do Belenenses? Absolutamente! Mas para o Belenenses tem sido machadada atrás de machadada e a vida está por um fio como sabemos.

Curiosamente continuamos a insistir neste caminho, a privilegiar a conversa de chacha, os ansiosos por dar nas vistas, os especialistas em arrastar o cú nos camarotes e nas reuniões e convívios parvos e esquecer os verdadeiros contributos desinteressados que já foram dados para o avanço do Belenenses, agora transformados em tentativa desesperada de salvação.

São muitos anos em contra-corrente e a constatar e repetir o óbvio. A desmascarar os pavões e os incompetentes e a lidar com as maiores cara-de-pau que alguma vez pensei possível. Para este peditório já dei. É de esperar que nestas circunstâncias reduza a actividade de "dar opinião" e "discutir e projectar o futuro" porque é óbvio que não há gente verdadeiramente interessada em fazê-lo. Fico-me por coisas pontuais mesmo que no meu íntimo saiba que vão ficar na gaveta como tantas outras no passado.