O PASSO SEGUINTE

Recebemos e passamos a publicar um artigo de opinião de um consócio que pediu para não ser identificado. É do mesmo autor do artigo aqui publicado na passada segunda-feira.
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Silas falou aos jornais e foi absolutamente transparente: a descida é um problema dele, um mal que lhe vão causar a ele e que o vai prejudicar a ele.

O clube, entendido como universo de adeptos que sem nada ganhar torcem e sofrem por umas cores e por um símbolo, não conta para a equação.

Ou melhor, conta: o clube vai-lhe lixar a vida. Com os campos para treinar que ele diz que não tem (restando saber o que é que este problema estrutural – que existe é um facto – influiu real e concretamente na sua inexistência como jogador de futebol competitivo), com a defesa que lhe deram, que ele (capitão de equipa, imagine-se!) culpa sem apelo nem agravo, e com o mês e meio de salário em atraso, que agora posiciona o clube na imprensa ao lado do Estrela da Amadora, quando, por muito errada que seja a situação – e é, qualquer pessoa de bom senso sabe não ter paralelo.

Silas explica claramente de quem é, e de quem não é, o problema. Por isso, pede aos sócios e adeptos que não o chateiem nesta amargura que vai ser a sua (dele, Silas) descida. No seu raciocínio, será ele mesmo credor de um pedido de desculpas.

Já sabemos isto, já vimos isto e já nada disto nos espanta. Temos que mudar de filosofia e construir um clube em que juremos a nós próprios que não haverá mais Silas. Mas, isso é para o futuro, é para fazermos a seguir, se conseguirmos sobreviver agora.

É lamentável que muitos quadrantes do clube olhem para esta entrevista e ainda vejam nela “a coragem de pôr os pontos nos “is””, o “chamar dos bois pelos nomes”, etc. Quanto a nós, só um avançadíssimo fenómeno de decadência explicará o desnorte, a perda de noção de timing, a perda de noção de realidade, que leva a essas opiniões. O que passa pela cabeça de algumas pessoas inteligentes para aceitar que se possam chamar agora problema estruturais para a equação e que Silas seja pessoa idónea para o fazer, e, sobretudo, para o fazer agora, não imaginamos. Eventualmente a "vaidade" de se ter razão em coisas já ditas antes (com as quais concordamos entusiasticamente), que tolhe a percepção de que Silas não tem razão nenhuma em compulsá-las, neste momento, para este fim e neste contexto!! Mas, enfim, vivemos num mundo livre e, portanto, temos que viver com as opiniões e posições que consideramos erradas. Faz parte da vida em democracia.

Mas, o verdadeiramente importante é que grande parte do clube não alinha por este diapasão.

No meio de toda esta questão, existe Jaime Pacheco que, para já, está em silêncio.

Não acreditamos que não lhe custe engolir uma entrevista destas. Vejamos: Pacheco veio de um sítio onde jamais um jogador falaria desta maneira. Viveu, e deu provas disso, dentro do lema do serviço ao clube e nada acima do clube, onde quem não se esfolasse, não jogava, quem pensasse para si era posto a andar, de uma mentalidade do “pensa tu o que podes fazer pelo clube e não o que o clube possa fazer por ti”.
Ao ler a entrevista desta flor mimada, deste queixinhas-pede-salsa-enterra- colegas, que já se está a preparar para exteriorizar e se vitimizar ao relação ao evento da descida, não podemos acreditar que a consciência de Pacheco passe incólume.

Mas, deve estar a coçar a cabeça e a pensar: o que faço eu agora?

Deve olhar para as alternativas e interrogar-se sobre se pode ou não dar o passo que, queremos acreditar, a sua consciência lhe deve dizer como correcto: ponho o Queixinhas e o Escudeiro no banco, agarro nos outros, nos putos, enfim, no que houver, e vou para a guerra com esses! Para nós, mesmo uma análise fria, ditaria esta opção. Na realidade, não há nada a perder. Quais são os riscos de tirar o Polícia Sinaleiro e o Escudeiro da equipa? Perdermos em casa contra a Naval?
Mas, devem existir aqui muitas variáveis. Silas não é parvo nenhum. E deve perceber de balneários como ninguém. No interesse dele, claro. Aliás, basta ver a fixação com que fala do “ajudar quem entra” e do “podem contar com os mais velhos”, etc.. Uma das variáveis será o estado em que estão os outros. Até que ponto não estarão “influenciados” o suficiente para serem eles próprios instrumentos de ruptura.

Outra será quem acompanhará Pacheco numa decisão arrojada?

A comissão de gestão? Temos dúvidas. Veja-se como a CG reagiu à entrevista de Silas. De mansinho, sem reprimendas e até dando uma mãozinha.

Os sócios? Bem, muitos ainda estão divididos e outros vão percebendo uma coisa aqui, outra ali, sem ver o conjunto.

A imprensa? De maneira nenhuma. Silas e Zé Pedro são intocáveis. Por aqui, Pacheco pode esperar ser trucidado ao primeiro “desalinhamento” com a postura oficial da “culpa do contentor”.

Além do mais, Pacheco é estranho a este clube, a esta cidade, a estes ambientes de tramóia e de conspiração, de “tacho”, de “fazer os mínimos”, de "queixinhas" e de "choramingas". De onde veio, era o pás, pás, pás, sem fum-fum, nem gaitinha.

Por isso, queremos acreditar, terá um dilema e não deve estar a dormir de consciência inteiramente sossegada.

Se assim for, alguns conselhos:

1º) não toda (infelizmente), mas uma grande parte da massa adepta do Belém não é parva, não se deixa comer por parva, tem os olhos abertos e já mordeu o Silas há muito tempo. Portanto, estaria com o treinador se este ousasse, fossem quais fossem os resultados, dar o passo que se impõe. Este quadrante do clube está bem à vontade neste aspecto porque se cumulam razões emocionais e objectivas/empíricas. Emocionais: ter este queixinhas como jogador e capitão é uma dor de alma mesmo quando se ganha; objectivas/empíricas: com Silas a mandar em campo e no balneário a descida é objectivamente garantida, verdade empírica, igual à de há 3 anos!

2ª) as equipas que andam nas linhas de águas são para andarem caladinhas, muito concentradas em ganhar o próximo, humildemente fechadas em si mesmas e jamais em pomposas entrevistas à imprensa com jogadores armados em grandes figuras do futebol Português. A boca é para estar fechada e só deve ser aberta para comer a relva, os postes e o que mais for necessário para não se descer. Portanto, impõe-se o óbvio: decretar o black out e já, que é para que se saiba, publicamente, que foi para mandar calar D. Silas. E assim se ficará a saber, com ganhos evidentes para todos nós, que quem manda abrir e quem manda fechar a boca é o TREINADOR!