Vem Vento, Varre...


Vem vento, varre
sonhos e mortos.
vem vento, varre
medos e culpas.
Quer seja dia,
quer faça treva,
varre sem pena,
leva adiante
paz e sossego,
leva contigo
nocturnas preces,
presságios fúnebres,
pálidos rostos
só covardia.
Que fique apenas
erecto e duro
o tronco estreme
de raiz funda.
Leva a doçura,
se for preciso:
ao canto fundo
basta o que basta.
Vem vento, varre!
(Adolfo Casais Monteiro)

Apostilha: Este licenciado em história, filosofia e pedagogia, nasceu no Porto em 1908, publicando o seu primeiro livro em 1929, com o sugestivo título "Confusões". Talvez fosse premonição ou simplesmente a continuação do legado de Eça de Queiroz, quanto à merda de classe política que continuaríamos a ter;