O Paradoxo do Nosso Tempo - Carta de George Carlin


Nós bebemos demais, fumamos demais, gastamos sem critérios, dirigimos rápido demais, ficamos acordados até muito mais tarde, acordamos muito cansados, lemos muito pouco, assistimos TV demais e rezamos raramente.

Rapidamente multiplicamos os nossos bens, mas reduzimos os nossos valores.

Nós falamos demais, amamos raramente e odiamos frequentemente.

Aprendemos a sobreviver, mas não a viver; adicionamos anos à nossa vida e não vida aos nossos anos.

Fomos e voltamos à Lua mas temos dificuldade em cruzar a rua e encontrar um novo vizinho.

Conquistamos o espaço, mas não o nosso próprio.

Fazemos muitas coisas maiores, mas pouquíssimas melhores.

Limpamos o ar, mas poluímos a alma; dominamos o átomo, mas não o nosso preconceito; escrevemos mais, mas aprendemos menos; planeamos mais, mas realizamos menos.

Aprendemos a nos apressar e não, a esperar.

Construímos mais computadores para armazenar mais informação, produzir mais cópias do que nunca, mas nos comunicamos menos.

Estamos na era do 'fast-food' e da digestão lenta; do homem grande de carácter pequeno; lucros acentuados e relações vazias.

Essa é a era de dois empregos, vários divórcios, casas chiques e lares despedaçados.

Essa é a era das viagens rápidas, fraldas e moral descartáveis, das rapidinhas, dos cérebros ocos e das pílulas "mágicas".

Um momento de muita coisa na vitrina e muito pouco na dispensa.

Uma era que leva essa carta a você, e uma era que te permite dividir essa reflexão ou simplesmente clicar 'delete'.

Lembre-se de passar tempo com as pessoas que ama, pois elas não estarão por aqui para sempre.

Por isso, valorize o que você tem e as pessoas que estão ao seu lado.

PS: George Denis Patrick Carlin nasceu em N. York a 12 Maio de 1937, faleceu em Santa Mónica aos 71 anos, a 22 de Junho de 2008, uma semana depois da sua última representação no Orleans Hotel e Casino de Las Vegas. Ateu convicto, crítico acérrimo das religiões, nomeadamente quanto ao sentido da culpa e do descontrolo social, defendia valores mais humanizados e seculares, humorista, actor, autor e pioneiro, com Lenny Bruce, no humor de crítica social. A sua maior polémica rotineira chamava-se "Sete Palavras que não se podem dizer em Televisão", causadoras nos anos setenta de dissabores e inúmeras idas ao cárcere e a tribunal, sempre que as proclamou em palco. Até meados da década de 60, Carlin manteve uma imagem tradicional, com fato e cabelo curto. Depois, ao escrever novo acto, decidiu deixar crescer o cabelo e a barba, sendo apelidado de ícone da contracultura. Aplaudido por vários colegas, como Lewis Black e Bill Maher, George Carlin chegou ainda a participar em vários filmes e séries de tv, dobrando também alguns filmes de animação;