Adeus, avô Silvino!!!
Obrigado por teres sido decisivo para eu ser do Belenenses. Lembras-te? Eu era criança e tu e o tio António levavam-me todas as semanas à bola. Tu ao Restelo. O tio à Luz para ver o Benfica de Humberto, Chalana e Nené. Combinávamos todos os detalhes por telefone. Tu ias mais cedo, para a bancada i...nferior dos sócios, e reservavas-me o lugar com a almofada que guardavas com todo o carinho. Ao intervalo comíamos o lanche que a avó preparava.
Outras vezes íamos a pé de Alfragide ao Belenenses. Muitas vezes acompanhámos a equipa fora de casa. Foi a tua paixão que me fez aproximar do Belenenses e afastar do Benfica. Tantas histórias que me contaste do nosso clube, avô. Lembro-me na perfeição do relato emocionado que me fizeste quando viste o Belenenses ser campeão nacional.
E o drama que viveste quando o Sporting empatou aquele maldito jogo a quatro minutos do fim. Tu foste um verdadeiro "furioso" dos anos 40, 50 e 60.
Viste o Belenenses nas Antas, em Braga, em Vidal Pinheiro, em Coimbra, em Évora, em Vila Real de Santo António, em tantos estádios deste pais.
Felizmente, entre nós, nada ficou por dizer e fazer, avô. Já estavas muito debilitado e eu consegui levar-te ao Restelo para veres um jogo. Foi com o Trofense. Ganhámos 3-2. E tu, como sempre, choravas quando a bola entrava na baliza contrária.
Nos últimos tempos já não tinhas a noção da realidade, avô. Já não sabias que estávamos perto da 3ª divisão, que houve gestão danosa que quase acabou de vez com o clube, que o estádio do Restelo está às moscas quando jogamos em casa. Este não é o teu Belenenses, avô. Quando te encontrares com o Artur José Pereira reconforta-o. Ele deve estar tão desiludido com o destino que o clube trilhou. Se vires o Pepe, o Matateu ou o Zé António faz com que eles esbocem um sorriso perante tanta pobreza que se vê em campo. Se vires o tio Zé Gama, que foi director de campo nas Salésias, reconforta-o porque o nosso relvado está deplorável. Dá um abraço ao avô Perlouro. Foi ele que me fez sócio. Dá também um beijo enorme à avó.
Foram quase 70 anos de sócio, não foi avô? Hoje é tudo tão diferente. Há televisão paga e net. As pessoas deixaram de conversar e de ir à bola. Preferem teclar e insultar-se em vez de apoiarem.
Quando íamos os dois à bola não havia nada disto pois não? O teu Belenenses era o Belenenses que eu gostava que existisse. De vitórias e união. Não este actual. De derrotas e gritaria. Continuarei a fazer o que me ensinaste, avô.
A apoiar incondicionalmente o nosso clube. Partiste ontem mas já tenho muitas saudades tuas.
Até um dia, meu querido avô...
PS 1: Nunca fui de grandes lamechiches! Nunca gostei de chorar sobre o leite derramado! Para mim é sempre olhos no horizonte lobrigando o futuro, recordando apenas o que de bom o passado nos deu. Mas porque este texto é poesia para os meus ouvidos, num momento em que o aço que forjou tantas gestas de grandes Belenenses escasseia, sinto que é meu dever também elevar este grito de alerta do Nuno Perlouro, e se ele me permite, gritar também a infinita tristeza por ver partir todos os que tanto amaram e dignificaram o Clube de Futebol Os Belenenses. Sentidos pêsames à família Perlouro e a todos os Belenenses de antes quebrar que torcer;
PS 2: Enorme pedido de desculpas por ter a ousadia de compartilhar e "roubar" este hino de amor ao CFB;
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Adeus, Avô Silvino!!!
Publicado por JAN @ 14.1.12 Etiquetas: Família Perlouro, Grandes Belenenses, Nuno Perlouro, Registos Para Memória Futura