Uma Assembleia-Geral é sempre importante. Mas esta é-o especialmente

É já amanhã a Assembleia-Geral Extraordinária convocada por José Anes para que os sócios decidam qual o caminho a seguir pelo Clube nos tempos mais próximos.

Em cima da mesa, por um lado, está a possibilidade de ser autorizada, pelos sócios, a constituição de uma comissão de gestão (espero que não seja uma mera comissão administrativa sem poder de decisão executivo). Por outro lado há a hipótese de ser tomada a decisão de convocar a eleição geral de todos os orgãos directivos.

À primeira vista, dada a aparente cisão de tendências internas, a comissão de gestão parece-me uma solução adequada, se sob determinadas condições, entre as quais destaco à cabeça a qualidade e provas dadas por quem vier a ser proposto e a constituição de uma base alargada de apoio entre os sócios. Sem isto assegurado só estamos a prolongar a agonia.

Já o disse anteriormente, em especial aquando da demissão de Cabral Ferreira, o Belenenses precisa de uma forte percepção da realidade, económica e financeira, das perspectivas que se abrem ou fecham à sua frente. Precisa mais que relatórios contabilísticos, balancetes e relatórios e contas, sempre embelezáveis - e se o foram de várias formas ao longo de anos. O BELENENSES PRECISA DE UMA VISÃO/PERCEPÇÃO NUA E CRUA DA REALIDADE E NÃO DE NÚMEROS QUE NÃO DIZEM NADA DA REALIDADE PALPÁVEL. E face a essa realidade O BELENENSES PRECISA DE TOMAR CONSCIÊNCIA DA GRAVIDADE DA SITUAÇÃO, tomar opções e romper radicalmente com tudo, com todos e com todas as práticas que nos trouxeram até este precipício.

O BELENENSES PRECISA de fazer esta reflexão, de uma forma rápida, sem mais perdas de tempo, em campo aberto, sem agendas escondidas, mostrar essa realidade ao povo belenenses que (ainda) se dá ao trabalho de participar em Assembleias-Gerais.

Deixemo-nos de pruridos e eliminemos de forma inequívoca os interesses particulares que nos consomem. Chegámos aqui, a este ponto terrível da nossa existência colectiva, ao arrepio de tantos avisos e de tantos argumentos válidos, repetidos vezes e vezes sem conta. E quando alguém proferia estas críticas e procurava alertar as consciências, esse alguém era gozado, ostracizado, para não dizer tantas vezes devassado. O importante era então protejer os "divinos", "eleitos", os que por ordem magna populavam e populavam os corredores do poder, pavoneando-se na sua vaidade. Outros belenenses, bem melhores que eu, o denunciaram desde bem cedo, há 17 anos atrás. Foram esses os primeiros escorraçados. No entanto fizeram os primeiros alertas. Ninguém os quis ouvir, de tão inebriados.

Se essa realidade actual for apresentada nestes termos, sem procurar a salvação em sempre falsos "messias", para os braços de quem se atiram frequentemente a maioria dos estimados conselheiros do Conselho-Geral, será possível abrir os olhos e as consciências de forma definitiva, pondo de lado definitivamente as ficções baratas de relatórios e contas de Clube e SAD, com a percepção de que só com algo que corte radicalmente com todas as práticas dos últimos anos poderemos ter alguma espécie de salvação ou pelo menos uma oportunidade genuína de o tentar. Quando digo algo de radical, refiro-me a acções radicais como as que foram tomadas há 40 anos atrás, adequando-as (obviamente) aos nossos dias, quer em termos de restrições geográficas na dispersão de sócios e ex-sócios, como nos canais de comunicação e métodos a usar para atingir os fins que nunca deviam ter deixado de nos orientar.

As rupturas têm de ser feitas com coragem, com muita franqueza, com todo o desprendimento pessoal e com o apoio do número máximo de sócios. Não tenhamos ilusões, a maioria dos poucos sócios que temos está-se nas tintas, os restantes têm medo e há ainda um pequeno mas muito glutão nicho de beneficiados, com interesses privados que colidem com o bem e a saúde do Clube.

Esta é, em virtude do estado a que se deixou chegar o Belenenses, virtualmente, uma missão impossível. Virtualmente. Ninguém está preparado ou sensibilizado para o fazer ou para entender a necessidade de o fazer. Os que não beneficiam do "sistema" actual mas que vêem o Clube (SAD incluída) a definhar visivelmente ano após ano, não estão preparados para entender o aparente radicalismo que é necessário para salvar o Clube. Iludem-se com os números dos relatórios e contas. Se a SAD tem 300 mil euros de prejuízo ou 700 mil de lucro em realidades alternativas isso é perfeitamente irrelevante porque a verdade é que não há dinheiro a curtíssimo prazo e esta época não tem cobertura orçamental assegurada. Não me quero alongar neste último tema por razões que julgo serem óbvias...

Não se trata simplesmente de cortar gordura, trata-se de cortar tecido morto e tumefeito. Trata-se de cortar rente os tumores que nos consomem e que insistimos colectivamente em alimentar por desleixo ou ignorância. Levamos-lhe a comida à boca, largamos a raposa em pleno galinheiro. Fechamos os olhos e esperamos que passe. Consumimo-nos pela indiferença. Trata-se de amputar para não gangrenar o que ainda é passível de ser salvo e revitalizado. Isto ninguém está disposto a admitir. Posso ver daqui as caras horrorizadas...

Para mim, o grande erro de Fernando Sequeira (e devo dizer que parto do princípio que todas as suas intenções eram inteiramente honestas e absolutamente pró-Belenenses) foi o de não ter uma política de comunicação aberta e permanentemente actualizada com os sócios, explicando a situação real e não apenas os relatórios e contas e balanços e balancetes que não dizem absolutamente nada à grande maioria dos sócios. Se se tivesse feito explicar e fosse de uma franqueza crua talvez tivesse e sentisse mais o apoio dos sócios (e refiro-me aos válidos e conscientes). Mas não, Fernando Sequeira preferiu o mesmo que muito dos seus antecessores (diria mesmo quase todos), ou seja, o fechar-se sobre um grupo reduzidíssimo de pessoas. Fez exactamente o mesmo que os antecessores, se excluírmos a demagogia barata que no seu caso não o levou à eleição. Fernando Sequeira saiu, como alega, por pressões insuportáveis, mas que seriam tão óbvias para todos os minimamente atentos. Havia e há muitos interesses que colidem com o bem do Belenenses. A prova são as ameaças, as perseguições e mesmo – a outro nível – os protestos de sócios, exagerados, em tão madrugadora ocasião. Não eram inocentes, estou em crer.

O resultado desta estratégia (de todos e não só de Fernando Sequeira - seria uma injustiça tremenda dirigir-me só a ele que só esteve na "cadeira" os últimos 6 meses) é óbvio: estamos à beira da extinção do Clube de Futebol «Os Belenenses». O que sobreviver a esta incúria e incapacidade pode ter esse nome mas nunca será o verdadeiro CLUBE DE FUTEBOL «OS BELENENSES», o NOSSO BELENENSES - CONSAGRADO E POPULAR.

Se não sairmos desta assembleia-geral cientes de que é preciso que se assuma que tem que haver autoridade, voz de comando e colaboração. É preciso que se assuma que o Belenenses não é do grupo A ou B, é de todos. E que há muitos que de diferentes formas podem ser úteis ao Clube.

Para mim, o Belenenses precisa mais que imagens irreais de mãos dadas
(só para a fotografia), precisa da constituição de um núcleo duro de pessoas verdadeiras, honestas, amantes do Belenenses e capazes em distintas áreas da intervenção necessária.

O Belenenses precisa de um grupo (necessariamente reduzido) de HOMENS APAIXONADOS, DISPONÍVEIS, com valências acumuladas em gestão (obviamente), na área comercial e de marketing (para angariação de novas receitas), na relação com os sócios e com os adeptos (tão descurada décadas a fio, mas acima de tudo em capacidade de visão e desprendimento a glórias pessoais, que chamem todos aqueles outros belenenses que estes entendam que nas várias disciplinas podem valer ao conjunto de todos nós.

O Belenenses precisa que se lance um apelo generalizado para o exterior, não pieguinhas, mas pungente, veemente e verdadeiro que chame os belenenses de volta ao Belenenses. Que o faça nos jornais na TV, na rádio e em todos os lugares em que belenenses que são figuras públicas apareçam, já que têm frequentemente tempo de antena. E temos tantos nomes e alguns tão visíveis. Não sou a pessoa mais indicada para os nomear, outros o farão melhor que eu.

Se bem que seja, perante esta situação, pela constituição de uma comissão de gestão com esta constituição, objectivos e valências, por outro lado não temo a realização de eleições gerais. Não temo de todo (apenas temo que haja ZERO candidaturas), mas tenho muitas dúvidas que haja capacidade de apresentar listas que organizem todos estes requisitos que enunciei para que o Clube saia desta situação. Duvido que seja possível criar tal lista com esse espírito. Nesta Assembleia-Geral exceptuando alguma situação de impossibilidade, estão os que se preocupam com o Belenenses, de todas as sensibilidades ou com falta dela.

Por isso, a minha intenção inicial é a de validar uma comissão de gestão limitada no tempo, constituída por este tipo de homens, o que, obviamente, risca da minha lista de nomes aceitáveis alguns dos nomes que têm sido aventados nos media. Não os vou referir. São por demais óbvios.

Tenho esperança que, apesar das últimas notícias, nomes como Barros Rodrigues e Fernando Gouveia da Veiga que declaram não ter disponibilidade para liderar uma comissão de gestão, a tenham em esquema de colaboração em campos perfeitamente identificados, pois estou convencido que eles próprios estão capazes de constituir equipas próprias que servirão para os campos em que se inserirem na lógica da orgânica de uma comissão de gestão. Sem conflitos e sem interseções de competências.

Esperaria desta comissão que fosse capaz de traçar as linhas mestras e actuar desde logo em áreas que estão esquecidas há muito, em que incluo, à cabeça, a urgente recuperação associativa e a promoção dos eventos desportivos rodeadas de um forte apelo colectivo. Mas que fosse capaz também - esta comissão - de eliminar TODOS os focos de evaporação de dinheiro.

Se isso não for possível, então que se realizem eleições o mais rapidamente possível e que todos tenham em mente que esta pode ser uma das últimas hipóteses de impedir que o Belenenses se afunde de vez no vazio que os belenenses – TODOS - ajudámos a criar.

O IMPORTANTE, PARA COMEÇAR, É QUE HAJA ESTA PERCEPÇÃO DO ESTADO REAL DO CLUBE, QUE ESTE SEJA CORAJOSAMENTE DECLARADO, QUE AQUI SE FAÇA ESSE ÚLTIMO ESFORÇO E QUE ASSIM OS BELENENSES POSSAM DECIDIR EM CONFORMIDADE. POR ISSO É PARA MIM TÃO IMPORTANTE ESTAR PRESENTE.

ESTÁ NA HORA! OU MORREMOS COMO TEMOS VINDO A MORRER DA MAIS HORRÍVEL FORMA, OU MESMO QUE VENHAMOS A MORRER NO FIM, PELO MENOS ESCOLHEMOS LUTAR PELA NOSSA VIDA, PELA VIDA DO BELENENSES!