O segundo discurso lido no Jantar de Homenagem a Alípio Matos

Abaixo reproduzimos o segundo de dois discursos lidos no Jantar de Homenagem a Alípio Matos e ao Futsal do Belenenses. Este discurso emotivo que agora damos a conhecer é da autoria do nosso estimado e militante consócio José Manuel Anacleto.
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A gratidão é certamente uma das mais nobres e importantes qualidades que se pode ter, fundamento, aliás, de todo a convivência colectiva; e, por isso, estão os belenenses de parabéns por esta iniciativa de homenagem ao senhor Alípio Matos e a todo o grupo de trabalho de Futsal do nosso clube.

Há já muitos anos atrás, quando o Belenenses lutava palmo a palmo pela supremacia do Futebol Português e do Desporto Lusitano em geral, publicou-se uma reportagem num jornal (aí, aliás, aparecendo Eduardo Azevedo, o pai do nosso sócio mais antigo), em que brilhavam estas palavras que nunca mais esqueci:

Quando Belém acaba um jogo, há sempre lágrimas.

A frase pode parecer demasiado emotiva; no entanto, a meu ver, ela caracteriza magnificamente o que era o Belenenses de então. Clube “consagrado e popular”, como diz o nosso hino, a sua alma imensa partia à conquista da vitória em todos os desafios e competições; e, no final, consequentemente, vinham as lágrimas de tristeza mas de dignidade, na hora da derrota; as lágrimas de júbilo e comoção, quando nos coroava a palma dos vencedores.

A este grupo de trabalho, agradeço o ter-nos devolvido esta vivência, de que o Belenenses tanto precisa, para fortalecer o elán clubístico. Sim, chorámos de felicidade e comoção, já mais que uma vez, ao ver o Belenenses com os títulos maiores à beira da mão; chorámos quase de surpresa, ao ver que “nada temos que temer”, ao ver ressurgir o grande Belém, a desafiar os seus velhos rivais, olhos nos olhos, sem medos, nem vassalagens; chorámos de raiva e de querer, ao recuperar de desvantagens e ao resistirmos a mais adversários do que aqueles que seriam normais; chorámos de tristeza e de sentimento de injustiça, quando a derrota nos atingiu; chorámos de reconhecimento ao aplaudir tanto esforço e tanta vontade; chorámos, enfim, ao gritar com toda a garra “Belém, Belém”, com saudade e desejo de mais.

“Yes, We can!”. Sim, nós podemos! Eis o que este grupo do Futsal, com dedicação, seriedade, paixão, rigor e vontade indomável, nos tem vindo a provar, e que deve ser o exemplo para o clube por inteiro. Quando assim se trabalha, os resultados surgem naturalmente, e levantam o ânimo de um clube sequioso de que se lhe devolvam o orgulho em si mesmo, a auto-estima, a crença, a coragem, o gosto do desafio.

Temos, desde logo, o esforço, a atenção, a auto-exigência, a dedicação incansável, a ambição de fazer sempre melhor dos Directores, do Nuno Lopes e do Luís Silva e também do staff de apoio. Cito uma frase que não é minha: “Aquele que nunca descansa, aquele cujo pensamento almeja, de corpo e alma, o impossível, esse é o vencedor”. Eles são a personificação desse espírito. Já o disse ao Nuno, e devo repetir.

Temos, depois, o talento, a capacidade, o profissionalismo, a entrega e o ânimo lutador dos jogadores. Bem hajam por respeitarem o nosso Belenenses! Bem hajam por honrarem a nossa camisola, e em muitos casos, por terem aprendido a amar o nosso clube. O Belenenses não é um clube fácil mas, ao mesmo tempo, é único e incomparável, belo como o azul do mar e do céu… É preciso grandeza de alma para o entender.

Culminando tudo, temos a competência, o carisma, a capacidade agregadora, o conhecimento aprofundado e as qualidades humanas invulgares do nosso treinador Alípio Matos. É sem dúvida, um grande treinador; mas, ainda mais, e mais importante, é um grande homem! Tem sido um comandante destemido da nau azul entre mares revoltos, enfrentando todas as tormentas e todos os adamastadores que nos querem impedir de dobrar o cabo da boa esperança. Nunca deixou de lutar, mesmo nas circunstâncias mais difíceis; nunca deixou de erguer a sua voz para expressar uma justa revolta; nunca hesitou em defender brava e desassombradamente o Belenenses, como desejamos que os nossos dirigentes o façam. E tudo isto tem sido feito com a simplicidade que só os verdadeiramente grandes, que só os líderes naturais sabem e podem ter. Há muitos anos que não ingressava no Belenenses alguém que tanto merecesse a nossa consideração e o nosso profundo respeito.

Para este treinador, para este homem e para este nosso consócio – este nosso consócio!... – não temos palavras que possam exprimir completamente a nossa gratidão. Mas temos a confiança que ele tenha sabido ler nos nossos olhares, nos nossos gestos e até nos nossos silêncios o que por ele sentimos, e que é imenso. A todo o grupo, queremos repetir que nos nossos corações, e à luz da verdade e da justiça, vós sois campeões!

Viva o Belenenses!

José Manuel Anacleto
Sócio nº 4720